A Lagoa do Sino e a utopia
O Campus Lagoa do Sino da UFSCar completa dez anos. Nasceu da utopia de Lula, Dilma e Raduan. Leia sobre esse esforço construtor, no artigo de Aldenor Ferreira.

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira
Publicado em: 27/04/2024 às 01:05 | Atualizado em: 27/04/2024 às 05:17
O Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) nasceu de uma utopia. No entanto, caro(a) leitor(a), não se trata da utopia comumente entendida como algo inatingível ou fantasioso, mas, sim, aquela concebida pelo filósofo alemão Ernest Bloch (1885-1977).
Em sua obra “O Princípio Esperança” (2005), Bloch apresenta uma visão singular da utopia. Para ele, a utopia não é algo irrealizável, quimérico, que deve ser sempre abandonado, mas, sim, uma esperança.
Para Bloch, a esperança por si só não garante o surgimento do novo; ela precisa estar ligada a um processo transformador que ele chama de “otimismo militante”. Em outras palavras, nesta perspectiva, a esperança é um movimento ativo. É um confronto com os antagonismos e contradições do sujeito. É um movimento na direção do que “ainda-não-veio-a-ser”.
Assim, a ideia do “novo” deixa de ser uma espera passiva e se torna uma busca determinada, a partir de um “esforço construtor”. A utopia, portanto, é um “sonho para frente”, um “otimismo militante”. E é nesta perspectiva que podemos entender a utopia que se vive no Campus Lagoa do Sino.
Raduan Nassar
Ao doar toda a sua fazenda para se tornar um campus universitário, uma ação incomum em nossa sociedade, o importante escritor brasileiro Raduan Nassar estava impulsionando o nascimento do novo. Ele estava realizando um movimento na direção daquilo que ainda não era, mas que viria a ser.
Nesse contexto, junto com os presidentes Lula e Dilma, Raduan estava imerso em um “otimismo militante”, realizando um “esforço construtor” por algo que realmente valia a pena. Eles estavam vivendo a utopia, concretizando o “Princípio Esperança” de Ernest Bloch.
Tudo na Lagoa é diferente. O seu projeto político-pedagógico, bem como as linhas de formação de seus cursos. Elas são modernas e conectadas com as demandas urgentes da sustentabilidade, da soberania e também da segurança alimentar, bem como do desenvolvimento sustentável do território onde o campus está instalado.
Certamente, enfrentamos desafios na Lagoa do Sino, mas é justamente diante destes desafios e na abordagem pedagógica diferenciada que reside um potencial enorme para transformar vidas e a sociedade local e regional como um todo.
Sabotagem e perseguição
Apesar de toda sabotagem e perseguição, outrora empreendidas por agentes internos e externos, o Campus Lagoa do Sino completa uma década este ano. Ou seja, a utopia blochiana venceu e permanece forte. É certo que, diante de diversos campi quase centenários existentes no Brasil, ainda somos bem jovens ou, melhor ainda, como uma pequena criança.
Todavia, somos uma criança de extraordinária beleza, talento e força. E, como toda criança, temos sonhos. Temos sonhos diurnos (epistemológicos) e sonhos noturnos (poéticos), como bem nos lembra o filósofo, químico e poeta francês Gaston Bachelard. Nosso espírito é inquieto, motivado pela investigação e pelo questionamento, como deve ser em todo ambiente científico verdadeiro.
Concluo, desejando longa vida ao Campus Lagoa do Sino da UFSCar, na esperança de que a utopia sempre nos guie. Com o apoio necessário, com certeza, realizaremos coisas ainda maiores.
*O autor é sociólogo.
Foto/arte”Gilmal