Efeito Isabelle e a chegada de novo público ao festival de Parintins

A participação da cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido no reality show da Rede Globo de Televisão antecipou a temporada bovina

Mariane Veiga, por Dassuem Nogueira

Publicado em: 24/04/2024 às 22:00 | Atualizado em: 24/04/2024 às 23:54

A busca por informações sobre Isabelle Nogueira na internet, na condição de participante do Big Brother Brasil, levou pelo rastro digital um novo público até o festival de Parintins.

A cunhã era a mais famosa entre os chamados “pipocas”, desconhecidos do grande público. Porém, ela já tinha 266 mil seguidores no Instagram e fazia publicidade para grandes marcas locais em seu perfil pessoal.

Ela estava longe de ser anônima para o público do Festival Folclórico de Parintins.

Ao contrário, os itens individuais ocupam um lugar de prestígio na disputa, pois defendem sozinhos pontos decisivos.

Além disso, as aparições dos itens cunhã-poranga e pajé foram, historicamente, colocados como sendo o grande final das apresentações.

Assim, ao buscar sobre Isabelle Nogueira no território sem fim da internet, o público do BBB encontrou uma ilha virtual inteira, cheia de alegorias, danças e toadas que contam sobre o universo do imaginário amazônico.

Em números, nota-se que o perfil do boi Garantido no Instagram, que possuía cerca de 100 mil seguidores a menos que o seu contrário, alcançou a marca de 333 mil seguidores.

O perfil do boi Caprichoso, atualmente, possui 311 mil seguidores.

A própria Isabelle alcançou a marca de 6 milhões de seguidores até o momento, dos quais 2 milhões apenas após o término do confinamento. Possivelmente, um público instigado pela exibição da festa da grande final que lotou o largo de São Sebastião em Manaus. E, obviamente, pelo inegável carisma da cunhã.

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Do sofá para as redes

O efeito Isabelle movimentou ainda rumores em torno da transmissão do festival de Parintins, no último final de semana de junho, pela Rede Globo.

A transmissão, atualmente, contratada pela TV local A Crítica, tem alcance regional pela televisão aberta e mundial pela internet.

A primeira transmissão nacional do festival foi feita de 2008 a 2012 pela Rede Bandeirantes.

O único espetáculo popular transmitido pela TV Globo em canal aberto para todo o Brasil, até o momento, são os desfiles das escolas de samba no carnaval do Rio de Janeiro.

A festa é o símbolo maior da cultura nacional, reconhecido mundialmente.

Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, pesquisadora do carnaval carioca, aponta que a transmissão dos desfiles de carnaval tem papel fundamental na reestruturação da festa popular como espetáculo.

O pesquisador do festival de Parintins e sociólogo Wilson Nogueira nota o fenômeno semelhante a partir da transmissão do Festival Folclórico de Parintins pela TV Amazonas, afiliada da TV Globo, em 1994.

A transmissão pela televisão foi propulsora do formato de espetáculo que conhecemos hoje no festival. As apresentações tornaram-se mais velozes, sem espaços vazios na arena ou intervalos entre os atos.

Assim, acumulam a dupla função de espetáculo no bumbódromo e de entretenimento para o telespectador do outro lado da tela.

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Magnitude reconhecida

A transmissão do festival folclórico pela Globo representaria o reconhecimento nacional da magnitude da cultura dos bois de Parintins.

Entretanto, o manifestado interesse também expressa a transformação da própria televisão enquanto meio de comunicação.

Nos lares brasileiros, os aparelhos de televisão têm coexistido com as telas dos smartphones na função de entreter e fazer propaganda de toda sorte de produtos.

Dentre esses, a vida de celebridades, como a dos ex-BBB.

Para não ficar sem a fatia de público jovem que cresce distante da rígida programação da televisão aberta, a Globo tem usado como estratégia um híbrido de atrações em seus programas.

Assim, de um lado, vemos celebridades de diferentes nichos do mundo da internet espalhados em sua programação. E, por outro, vemos engajamentos de públicos nichados sobre suas atrações na internet.

Há uma máxima nos estudos de mercado que diz “se você não paga para usar um produto, o produto é você”.

Isso vale tanto para a televisão quanto para a internet.

É como diz outra máxima: “não há jantar grátis no capitalismo”.

Se a Globo vai ou não transmitir o festival, certo é que a participação de Isabelle Nogueira no BBB, já na largada, capturou para a Globo mais esse nicho.

O público bovino se engajou no sofá e nas redes sociais.

Assim como Isabelle, ávido por mostrar ao mundo o seu tesouro.

Contudo, quem consome o universo dos bois Garantido e Caprichoso como produto no Brasil ainda é um público seleto dentro e fora das telas.

Todavia, graças ao efeito Isabelle, ela que agora é uma ex-BBB, o mundo bovino capturou para o seu nicho alguns milhões do público virtual das redes sociais.

Tal público é mais jovem e exigirá dos bois, enquanto agremiações, novos produtos e um novo formato de interação nas redes sociais.

Desse modo, consolidarão fora da arena suas existências virtuais cuja consequência prática ainda é um esboço entre virais e cancelamentos.

O potencial do festival de Parintins como produto cultural sob diferentes formatos é imenso. Especialmente porque contém em si um grande símbolo mundialmente conhecido, a Amazônia.

Se os desfiles do Rio de Janeiro são símbolo mundial do Brasil, o festival dos bois de Parintins tem potencial para ser a festa da Amazônia.

Fotos: divulgação