A cunhã-poranga do Brasil
Isabelle "parintinizou" o BBB e trouxe visibilidade para cultura amazônica.

Diamantino Junior, por Dassuem Nogueira*
Publicado em: 16/04/2024 às 17:40 | Atualizado em: 16/04/2024 às 19:17
Isabelle Nogueira, a cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido, encerra hoje sua trajetória no Big Brother Brasil 2024.
A mobilização em torno dela inclui as redes oficiais do Governo do Amazonas, o pedido pessoal do próprio governador e duas festas oficiais, em Manaus e Parintins, para a transmissão da grande final por diferentes meios de comunicação.
Desde o início do program há uma trégua inédita entre os centenários bois Garantido e Caprichoso.
Para se ter uma ideia do que isso significa, a rivalidade entre eles está entre as maiores do mundo, tais como muras e mundurukus, Capuletos e Montéquios, Mezengas e Berdinazes, Leôncios e Coutinhos, Grêmio e Internacional, Remo e Paysandu.
Só quem não conheceu o Festival Folclórico de Parintins se surpreendeu com o resultado do último paredão, no domingo, dia 14, que levou Isabelle até a final do BBB.
Sempre penso que os moradores da cidade famosa por brincar de boi, ironicamente, não sabem brincar.
Nos últimos dias de competição, os comerciantes da cidade se mobilizaram em promoções e sorteios em prol do voto único em sua concorrente, a atriz e bailarina paraense Alane Dias.
Desde que foi aberta a votação para a grande final, as promoções se replicaram.
Isso porque Parintins é a cidade espetáculo.
A “pavulagem” é, definitivamente, um traço cultural dos que nascem na ilha. O termo significa se exibir como um pavão.
E é exibindo o que tem de mais belo, o festival, que eles “parintinizam” adeptos de outros lugares.
Isabelle Nogueira, manauara de nascimento, foi “parintinizada” ainda criança, levada aos ensaios dos bois por sua mãe Jaqueline. Aliás, nome de outra inesquecível cunhã-poranga do Garantido.
Isabelle “parintinizou” o BBB. E além da visibilidade que deu aos bois e ao festival, ela se empavulou do país das Amazonas, as mulheres guerreiras guardiãs do eldorado.
A cunhã levou para se empavular em rede nacional o x-caboquinho que, diz-se em Parintins, também é criação de lá.
E agora, tal como os “oxente”, “égua” e “che”, o parintinense “olha já” também é uma referência de Amazonas para o Brasil.
Além disso, Isabelle deu aulas sobre o que é ser indígena descendente e sobre povos indígenas de maneira simples e fácil.
Levou o artesanato de Samila Sateré, roupas de estilistas de outros povos e marcas locais que confeccionam a temática dos bois.
Isabelle representou!
Possivelmente, para quem no Brasil ainda não conhece o Amazonas, sobretudo, Parintins e o festival dos bois Garantido e Caprichoso, não tem dimensão da imensa vontade de ver o nosso eldorado ser reconhecido pelo Brasil.
Hoje, o dia da grande final, a atmosfera no Amazonas é tal qual o verso de Chico da Silva, a “Toada do cônsul” de 1992, do boi Caprichoso: “Amazonas virou mundo, Parintins é meu país”.
E Isabelle Nogueira é a ministra da cultura.
Para nós do Amazonas, não se trata apenas de fazer uma amazonense campeã de um reality, mas de mostrar a força de um povo orgulhoso de sua cultura.
No início do programa, os participantes e comentaristas do reality sequer sabiam pronunciar corretamente o termo “cunhã”, que em nheengatu (língua franca indígena) significa mulher.
Chamavam-na de “cunha”, como o sobrenome em língua portuguesa.
Independentemente do resultado, hoje Isabelle Nogueira sairá do programa com a alcunha de “A cunhã-poranga do Brasil”.
Foto: BNC Amazonas