Bolsonaro é uma ideia do mal
"Os eleitores-seguidores-adoradores de Jair Bolsonaro, comumente denominados “bolsominions”, não irão desaparecer da cena política brasileira"

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*
Publicado em: 03/02/2024 às 04:04 | Atualizado em: 03/02/2024 às 04:04
Bolsonaro está inelegível e fora das próximas eleições. Todavia, suas ideias e discursos estão mais vivos do que nunca. Ele é a antítese de Lula, porém, ele também é uma ideia. Uma ideia do mal que reverbera o que há de pior na sociedade nacional.
Sabe-se que as ideias não se exterminam tão facilmente. Ou seja, os eleitores-seguidores-adoradores de Jair Bolsonaro, comumente denominados “bolsominions”, não irão desaparecer da cena política brasileira. Infelizmente, eles vieram para ficar.
Cosmovisão do mal
Isto se dá porque ele representa um sentimento. Infelizmente, há na sociedade brasileira uma parcela considerada de pessoas que compartilham uma cosmovisão do mal. Uma forma de conceber a vida em sociedade baseada nas premissas nazifascistas.
O ethos de parte da sociedade brasileira foi forjado no autoritarismo, no genocídio e na violência em todos os segmentos. O Brasil viveu por mais de três séculos sob o regime escravocrata. O resultado prático disso foi a criação de um país extremamente elitista, preconceituoso e desigual.
Com o advento das ideologias totalitárias do século XX, notadamente o nazismo e o fascismo, o país manteve a sua predisposição e/ou predileção pelo mal e, assim, parte da sociedade nacional abraçou e embarcou nestas ideologias.
Nazismo tropical
Como exemplo, no livro “Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil” (2012), a historiadora Ana Maria Dietrich realiza acurado trabalho de pesquisa e apresenta números relevantes acerca do nazismo no Brasil. Segundo ela, o Partido Nazista Alemão possuía no país cerca de 2.900 filiados, sendo o maior Partido Nazista fora da Alemanha.
Ainda segundo a autora, havia filiados do Partido Nazista em 11 estados brasileiros. Os cinco primeiros colocados, com maior número de filiação eram: São Paulo com 785 filiados, Santa Catarina com 528 filiados e Rio de Janeiro com 447 filiados. Depois vinham o estado do Rio Grande do Sul com 439 filiados e Paraná com 185.
Curiosamente, estes estados surgem na cena política nacional atual como estados de forte presença do que se convencionou chamar, equivocadamente, de “bolsonarismo”. Aliás, com exceção do Rio Grande do Sul, os outros estados são governados por bolsonaristas.
Uma ideia viva
Neste sentido, afirmo eu, o êxito político de Bolsonaro não está relacionado a alguma coisa importante que ele tenha feito pelo país ao longo de sua carreira política. Ele nunca fez nada de útil à nação. Seu sucesso eleitoral reside naquilo que ele representa, ou seja, ele é uma ideia viva de nazifascismo.
Bolsonaro é apenas um espelho que reflete a ideologia em parte latente, em parte explícita da cosmovisão hedionda, escravocrata, nazifascista de parte considerada da sociedade nacional. Neste âmbito, não importa se o país está melhorando, se está avançando na redução da desigualdade social por meio da geração de empregos e distribuição de renda.
Na verdade, para os nazifascistas isto é até ruim, pois não é interessante para eles um país plural, igualitário, democrático e justo.
Conclusão
A história brasileira é uma história de violência. Isto se dá primeiramente com o genocídio de pessoas indígenas e pretas. Os séculos se passaram e não conseguimos eliminar o elitismo, o preconceito, o ódio de classe e o apartheid social que há em nosso país.
Apenas uma revolução pela educação poderia mudar este quadro. Ideologias e culturas só se alteram por meio da educação. É preciso, portanto, o estabelecimento de uma educação crítica e reflexiva que possibilite uma sólida formação política e cidadã. Infelizmente, não temos sinais de que irá acontecer a tão esperada e necessária revolução.
De fato, não irá acontecer mesmo. Nem com o Novo Ensino Médio, nem com parte da juventude preta, indígena, pobre, periférica fora dos melhores cursos das universidades. Nem com investimentos minguados em ciência e tecnologia etc. Neste sentido, a ideia Jair Bolsonaro, aquilo que ele representa, ainda irá nos atormentar por muitos anos.
*Sociólogo
Arte: Gilmal