Não podemos ser Lulomínios
Não podemos ficar calados diante do contingenciamento dos recursos no âmbito do Ministério da Educação e da Saúde

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*
Publicado em: 16/12/2023 às 03:00 | Atualizado em: 16/12/2023 às 04:52
Nós, do Partido dos Trabalhadores (PT), não podemos agir de maneira apaixonada, cega e irracional. Não podemos ser Lulomínios. O próprio Lula não quer isto. Ele mesmo disse que gostaria que cobrassem as atitudes de seu governo para ajudar a melhorar a condição de nosso país.
A militância é fundamental para a sustentação política de qualquer governo. Todavia, apoio não significa abaixar a cabeça para tudo e todos e concordar com todas as medidas que estão sendo tomadas pelo governo nos mais diversos ministérios.
O PT não é uma Igreja. Está no “DNA” do partido o debate livre e plural de ideias, as cobranças, contraposições e reivindicações. Não trabalhamos com dogmas nem estelionato eleitoral. Nossos representantes, tanto do Legislativo quanto do Executivo, devem respeito ao estatuto do partido e a todas as suas diretrizes.
Dinheiro da Educação e Saúde
Neste sentido, não podemos ficar calados diante do contingenciamento dos recursos no âmbito do Ministério da Educação e, também, no da Saúde, bem como no corte de verbas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Estes contingenciamentos afetam diretamente programas ligados à educação básica, ou seja, afetam a alfabetização de crianças, o transporte escolar e, no caso da CAPES, afeta o pagamento das bolsas de estudo para mestrado e doutorado.
Os tecnocratas do governo correram para explicar que se trata apenas de uma manobra para se evitar furar o teto de gastos e, consequentemente, para impedir que sejam abertas portas para a acusação de crime de responsabilidade por parte do presidente, fato que poderia levar a um pedido de impeachment.
A saída e a explicação podem ser válidas do ponto de vista técnico, porém, do ponto de vista político é péssima. Na prática, o que se tem é um governo de esquerda, popular, progressista tomando a mesma medida que o governo nazifascista anterior tomou. Sem tirar nem por.
A promessa é de que, uma vez cumprido o teto de gastos, os recursos sejam liberados. Duvido. Não é assim que funciona. Nunca foi. É preciso entender que o governo é um espaço de ampla disputa, política e ideológica. Michel Foucault já lecionou sobre este tema quando definiu o poder como uma correlação de forças.
Luta
Neste sentido, nada está dado. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é socialmente e politicamente construído. Portanto, é preciso muita luta, organização, articulação e participação para se contrapor às disputas, muitas vezes nada republicanas, que ocorrem nos bastidores do poder.
Neste âmbito, não há ninguém melhor para fazer este enfrentamento do que o próprio partido. Mas para que isto ocorra é preciso que a crítica seja feita. Como dito, não somos uma Igreja e Lula não é nosso pastor. É importante que se diga que nem ele mesmo quer que isto ocorra em seu governo.
Concluo, afirmando que precisamos militar novamente, reivindicar, voltar às ruas e às bases. O presidente é do nosso partido, mas o governo não é totalmente nosso. Neste sentido, levantar a nossa voz é, na verdade, ajudar o nosso presidente. Nós não temos o menor cacoete para ser “mínio” ou Lulomínio, se preferirem.
*Sociólogo
Arte: Gilmal