O diabo sempre aparece nos detalhes

O autor deste artigo usa o título, por exemplo, para falar de armas que haviam sido roubadas de um quartel do Exército.

Ednilson Maciel, por Habdel Costa*

Publicado em: 20/10/2023 às 18:08 | Atualizado em: 20/10/2023 às 19:14

Às vezes eu preferiria ser um pouco mais idiota.

Faz algum tempo que li em um jornal local o resgate do corpo de um cidadão que fora executado quando tentava entrar em um sítio, em um ramal não asfaltado próximo de Manaus.

O crime acontecera durante uma madrugada chuvosa. Segundo testemunhas, o cidadão ainda tentou correr, mas foi alcançado pelas balas.

O diabo sempre está nos detalhes.

Uma imagem que aparecia no jornal mostrava a sola do sapato do morto sem qualquer vestígio de lama. Vai saber…

A outra anomalia entre a versão dada pela imprensa e as imagens foi com relação a um assalto em uma empresa do setor de transportes de passageiros de Manaus, também ocorrido há algum tempo.

A imagem mostrava um cofre aberto e a folha interna que protege os mecanismos entortada, parecendo a letra “C”.

E eu vi que, por fora, onde a chapa é grossa, com o mecanismo de abertura, o dos segredos e puxador, estavam no lugar.

Aí me veio uma pergunta imbecil: como a chapa interna estava entortada daquele jeito se não havia nenhum buraco que pudesse alcança-la pelo lado de fora?

Esqueci que o arrombador pudesse ter sido treinado pelo ilusionista Uri Geller, que ensinava como entortar colheres pela televisão.

Aonde quero chegar com esses exemplos?

Estava assistindo na GloboNews o programa “Edição das 18h”, com o César Tralli, e passou as imagens da polícia carioca retirando da mala de uma carro parte das armas que haviam sido roubadas de um quartel do Exército em São Paulo.

As armas estavam todas embrulhadas e amarradas com fita isolante prateada.

O detalhe, lá está o diabo de novo, é que os policiais pegam nas armas, rasgam a embalagem e as fitas colocando as armas no chão sem usar luvas.

Não precisa ser Sherlock Holmes para saber que houve contaminação e destruição de evidências. Com essas evidências poderia-se chegar aos traficantes que compraram as armas roubadas.

E é claro que oito metralhadoras de grande potencial não brotam do nada dentro de um carro.

A polícia carioca anda se superando ultimamente.

Levaram 24 horas para fechar o caso do assassinato dos médicos e menos de uma semana para recuperar essas armas.

Como diria o Capitão Nascimento em “Tropa de Elite 2”: “o sistema entrega uma mão para salvar o braço”.

Vai que a tropa do Dino chega perto, né!

Até agora sigo resistindo aos ataques da diabetes aos meus “olhos de leproso” que insiste em ver o que não deveria.

Teimoso eu insisto como Augusto dos Anjos em “Psicologia de um vencido”:

“Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los…”

Allah Akbar!

*O autor é bancário e professor.

Foto: divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro