Operação da PF mira lavagem de dinheiro com remédio de crianças ianomâmis

Polícia Federal deflagra segunda fase da Operação Yoasi para investigar lavagem de dinheiro no desvio de medicamentos destinados aos Ianomâmis.

Diamantino Junior

Publicado em: 04/10/2023 às 13:10 | Atualizado em: 05/10/2023 às 17:25

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (04/10) a segunda fase da Operação Yoasi, com o objetivo de investigar suspeitos de lavar recursos que seriam provenientes do desvio de medicamentos destinados aos Ianomâmis.

A ação resulta da primeira fase da operação, realizada em 30 de novembro de 2022, que apurou um suposto esquema que teria deixado mais de 10 mil crianças ianomâmis desassistidas, com a efetiva entrega de apenas 30% dos medicamentos adquiridos pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y).

A primeira fase da operação revelou indícios de participação de outros suspeitos nos crimes investigados, os quais teriam realizado vultuosos aportes em empresas suspeitas com o objetivo de dar aparência de legalidade aos valores supostamente desviados.

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Nesta segunda fase da operação, estão sendo cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em Boa Vista/RR, expedidos pela 4ª Vara da Justiça Federal em Roraima.

Apenas um dos alvos da operação de hoje, preso na Operação Hipóxia, deflagrada no início de setembro e que investigou o superfaturamento de oxigênio destinado aos Ianomâmis, é suspeito de ter repassado R$ 4 milhões para a empresa investigada na Yoasi.

As investigações continuam em andamento para apurar o envolvimento de outras pessoas nos crimes investigados.

Ação contra garimpeiros

A Hutukara Associação Ianomâmi cobrou, em ofício, investigação sobre a situação dos indígenas amarrados por garimpeiros ilegais em um acampamento no Território Ianomâmi.

Em nota divulgada nesta quarta-feira (20), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) disse que a situação é inadmissível e que articula providências sobre o caso.

“Situações como esta são inadmissíveis e este Ministério tem articulado e acompanhado um conjunto de medidas no âmbito do Comitê de Desintrusão, instituído pelo Decreto nº 11.702, de 12 de setembro de 2023”, disse o MPI.

“O Ministério dos Povos Indígenas articula agora com todos os ministérios endereçados na denúncia enviada pela Hutukara Associação Ianomâmi, providências urgentes para averiguação, denúncia e punição dos responsáveis por este caso”, ressaltou.

De acordo com a Hutukara, são, ao menos, três crianças amarradas, com os braços presos por cordas, em uma viga de madeira. O caso aconteceu nas proximidades da pista da Bateia, na região de Surucucu.

No vídeo, que foi gravado por um dos garimpeiros, é possível ver que os indígenas estão em um acampamento montado no meio da floresta. Durante a ação, um dos garimpeiros pede para que “tragam os mokaua [armas]” para o barracão onde os indígenas estão.

“Os vídeos tratam da mesma situação. Eles registram um momento em que garimpeiros acusam crianças ianomâmi de terem furtado celulares, e na tentativa de recuperar os objetos, amarram e ameaçam as crianças, que supostamente teriam pego os telefones”, diz trecho do documento.

Os indígenas são da região do Hakoma, localizada entre as regiões de Homoxi e Surucucu. Com cerca de 12 comunidades, Hakoma tem presença de garimpeiros e altos níveis de contaminação por mercúrio.

Conforme a Hutukara, a região é de difícil comunicação e, por isso, ainda não se sabe quando as imagens foram gravadas e o que aconteceu com os indígenas. As crianças não tiveram as idades informadas.

O ofício também foi enviado à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Polícia Federal, Ibama, 1ª Brigada de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro e Ministério Público Federal (MPF) em Roraima.

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Foto: divulgação