O calor está de matar
Em setembro, as temperaturas vão de mínima de 26° à noite e máximas de 39° durante o dia. Contudo, a sensação térmica durante o dia é em média 41°

Mariane Veiga, por Dassuem Nogueira
Publicado em: 15/09/2023 às 19:20 | Atualizado em: 15/09/2023 às 19:20
O mês de setembro é conhecido como o mês mais quente da temporada do verão amazônico. O clima equatorial, localizado abaixo da linha do Equador, a linha imaginária que divide o planeta em dois hemisférios, norte e sul, não possui grande amplitude térmica.
As estações do ano são influenciadas pelo movimento de inclinação do planeta, que muda o eixo de um lado para o outro durante o ano, modificando ventos, mares e temperatura.
Mas, como estamos no Amazonas localizados abaixo da linha imaginária do Equador, em uma grande planície, a temperatura é estável: é calor o ano inteiro.
Chamamos de inverno o período chuvoso de dezembro a maio e de verão o período de estiagem de junho a novembro. Em realidade, esses são os períodos de enchente e vazante do rio Amazonas. Nos rios menores, e entre a cabeceira e o delta, há uma pequena variação de meses nesses movimentos.
Em setembro, as temperaturas vão de mínima de 26° à noite e máximas de 39° durante o dia. Contudo, a sensação térmica durante o dia é em média 41°. E à noite, 34°.
O El Niño é um fenômeno que provoca o aquecimento da faixa equatorial do oceano Pacífico, às margens da América do Sul.
Segundo o Inpe, ele vem se instalando desde fevereiro deste ano. A previsão é de que o fenômeno provoque secas de moderadas a intensas no norte e leste da Amazônia.
Isso significa que choverá pouco. A floresta com pouca umidade tem maior risco de ser incendiada, sobretudo, em áreas já degradadas.
A umidade relativa do ar nesse período é baixa quando comparada ao chuvoso. Ainda assim é alta, em média 40%. É considerada saudável a umidade relativa do ar de, no mínimo, 30%. A umidade dá a sensação do abafamento do clima e o ar que respiramos fica mais denso.
A incidência dos raios ultravioleta que chegam do sol é o que dá a sensação de ardência na pele. A radiação no verão amazônico chega a níveis extremos, especialmente porque o céu fica aberto, sem presença de nuvens.
Os raios UVA são os que favorecem o aspecto de envelhecimento da pele. Os do tipo UVB são os que causam vermelhidão, queimaduras e câncer de pele. As nuvens diminuem, mas não bloqueiam a radiação solar.
Porém, mesmo a experiência do calor, um fenômeno físico, têm distinções pautadas por diferenças culturais, econômicas e sociais.
Certamente, o calor é percebido diferentemente entre aqueles que precisam trabalhar sob o forte sol e aqueles que trabalham em ambientes climatizados artificialmente.
E entre os trabalhadores expostos ao sol e ao calor, as estratégias de enfrentamento se diferem.
Há os que podem comprar filtros solares e camisas térmicas, há os que podem comprar chapéus e roupas compridas e grossas e há os que não podem se proteger.
Ao longo dos anos, e cada vez mais, diante da aceleração das mudanças climáticas, desenvolvemos uma cultura do calor, baseada em uma farta experiência em amenizá-lo.
O mais democrático deles é o costume dos vários banhos ao longo do dia. Contudo, as jornadas de trabalho nos impedem de cultivá-lo.
Todavia, aos finais de semana, acionamos a categoria do ir ao “banho”. Ele implica em nos dirigir a estabelecimentos comerciais cujo atrativo principal é a água para refrescar-se, tais como clubes, flutuantes e balneários.
Há contradições marcantes da cultura do calor dos amazonenses pois nós temos costumes que parecem colaborar com o aumento da sensação térmica, ao invés de amenizá-lo. Por exemplo, o apreço por tomar os caldos e caldeiradas de peixe, pratos servidos quentes, ao meio dia! Não raro, acrescidos de pimenta. Tomamos e suamos ainda mais.
Outro costume contraditório é a predileção por preparados quentes na merenda da tarde, como o mingau de banana e o próprio café.
Outro fenômeno visível é a instituição da reclamação bem humorada das altas temperaturas. Nessa época do ano, já virou tradição a única chuva da temporada: a de memes e piadas sobre o calor insuportável.
Há muitas comparações com o inferno, um sol para cada habitante, o segundo sol que chegou, sobre a hipótese de que podemos assar um tambaqui no calor, e sobre a subida da conta de energia pelo uso constante de ventiladores e ar condicionados.
Os estudos sobre o humor em nossa sociedade apontam que rimos do que é uma tensão social. Como dissemos, não experimentamos o calor da mesma forma, pois essa é uma experiência atravessada por diferentes indicadores sociais.
Pagar a conta de luz nessa época do ano é tenso. Assim como o aumento da temperatura perceptível a cada El Niño. Sorte que nossa cultura encontra vazão no bom humor.
Foto: Altemar Alcantara/Semcom