A mais temida da região

A Ciranda Guerreiros Mura, originada na escola José Motta em Manacapuru, destaca-se por suas raízes no povo indígena Mura, coreografias provocativas e títulos conquistados.

Dassuem Nogueira , especial para o BNC Amazonas

Publicado em: 02/09/2023 às 13:35 | Atualizado em: 02/09/2023 às 13:51

A ciranda Guerreiros Mura se originou na escola José Motta, localizada no bairro da Liberdade. Suas cores são o azul, vermelho e branco.

O nome é uma referência ao povo indígena Mura, que chegou onde hoje é Manacapuru por volta de 1700.

Eles disputavam a região entre os rios Madeira e Tapajós com os Munduruku.

Os Mura ficaram conhecidos na história por serem bravos guerreiros, temidos por seus inimigos.

Os Munduruku só os derrotaram porque se aliançaram aos portugueses, que lhes deram armas de fogo. Assim, foram empurrados até Manacapuru.

Manacapuru, aliás, teria sido o nome de uma temida líder Mura.

Por isso, seus torcedores gostam de chamar sua ciranda de Guerreiros Mura da Liberdade, a mais temida da região.

Uma de suas marcas são as coreografias provocativas. Elas ressaltam o elemento indígena por meio de passos que fazem menção a uma posição de guerra.

Os seus cirandeiros batem os pés no chão com força, a ponto de serem ouvidos como a marcação de um tambor.

A mais temida é também a maior vencedora, com 12 títulos. Tem 30 anos. É a mais nova entre as que competem no festival de Cirandas de Manacapuru.

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A Liberdade dos Guerreiros Mura

Galpão da Guerreiros Mura no bairro do Figueirinha, reduto da ciranda
Galpão da Guerreiros Mura no bairro do Figueirinha, reduto da ciranda

O galpão da Grêmio Recreativo Folclórico Ciranda Guerreiros Mura fica na rua Alvarães, no bairro de Figueirinha, em área limítrofe ao bairro da Liberdade.

Lá ocorrem os ensaios e são confeccionadas as alegorias.

Porém, o ponto de referência dos guerreirenses é uma pequena praça conhecida popularmente como Encontro dos Amigos.

Praça conhecida como Encontro dos Amigos, no coração da Liberdade

O local fica a cerca de 30 metros da escola José Motta, onde a ciranda foi criada.

É uma encruzilhada de ruas, no coração da Liberdade, conhecido por reunir a boêmia do bairro o ano inteiro.

Do Encontro dos Amigos, parte o maior evento da azul, vermelho e branco, a carreata da Guerreiros Mura.

Embora seja uma carreata, é recheada de motocicletas e de multidão que segue a pé pelo bairro.

Na encruzilhada do Encontro dos Amigos, também ocorre a festa da vitória.

Orgulho de ser pitiú

Quem torce pela ciranda Guerreiros Mura se autodenomina de guerreirense. A sua torcida organizada se chama Nação Guerreirense, a NAG. Diz ser a maior em número.

O bairro da Liberdade nasceu de uma ocupação, na década de 1980. Seus primeiros moradores, em maioria, eram pescadores, peixeiros e trabalhadores da famosa feira do bairro.

Torcedores da Flor Matizada começaram a provocá-los, chamando-os de pitiú, o cheiro típico dos peixes.

Os guerreirenses passaram a usar o termo de modo positivo. Assim, passaram a dizer que eram “pitiú com orgulho”.  

A cirandada Sou pitiú, dos compositores Gamaniel Pinheiro, Gleyson Andrade, Hemanyel Pinheiro e Jonas Maia, leva a sua torcida ao êxtase.

O diretor de galpão da Guerreiros Mura, Elton Junior, 49 anos, é também um apaixonado torcedor.

Para ele, sua ciranda é especial porque “ela é humilde e é a única ciranda do povão. Foi criada dentro do maior bairro de Manacapuru. Nunca mudei, nunca tive a pretensão de mudar. No dia em que eu deixar de torcer pela Guerreiros Mura, não tenho a pretensão de torcer pra mais nenhuma”.

Escola José Motta, onde nasceu a Mura

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas