Honra, maior valor militar, vira utensílio de última necessidade no quartel
A prisão do general Carlos Alberto Mansur, durante a operação Comboio no Amazonas, trouxe mais uma vez à tona a crise moral das Forças Armadas do Brasil.

Neuton Corrêa , da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 30/08/2023 às 17:00 | Atualizado em: 30/08/2023 às 17:03
A prisão do general Carlos Alberto Mansur, neste dia 29, durante a operação Comboio, e sua consequente exoneração da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), expõe a crise moral por que passam as Forças Armadas do Brasil.
Até aqui, os fatos mostram que o general não tem envolvimento direto com os crimes apontados pela operação. Ele foi preso por posse ilegal de arma.
Acontece que a operação atingiu, literalmente, o coração da pasta que ele comandava. Isso porque o principal acusado de usar estrutura e pessoal da SSP-AM para roubar bandidos é o filho dele, Victor Mansur.
Victor entrou na secretaria nomeado pelo pai.
Ainda que tenha obtido liberdade, após pagar fiança, Mansur protagoniza com isso fato raro na história das Forças Armadas brasileiras: a prisão de um general.
Aliás, ele é o primeiro general preso na história.
Mas, Mansur não foi o único que se envolveu com o poder público civil e manchou a farda verde-oliva.
Pode-se, portanto, citar o general Mauro Lourena Cid, que entrou na crônica policial política por causa do filho. E esse filho é, igualmente, também militar de alta patente no Exército e na República, no governo Bolsonaro: o tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio. E que expõe ainda mais a instituição militar ao se deixar ser filmado em interrogatórios nas CPI e Polícia Federal.
Os dois, o general (pai) e o tenente-coronel (filho) estão metidos em apropriação indébita de jóias da Presidência da República.
Além disso, há outros casos que constrangem a caserna e que vieram à tona na história recente.
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Recado dado
E já são tantos os casos que obrigaram o comandante do Exército, Tomás Paiva, a falar em punição aos transgressores. Ele falou isso em um dia simbólico, o 25 de agosto, Dia do Soldado.
Foi uma fala para dentro e para fora dos quartéis. Para dentro, ameaça; para fora, promessa. Ou seja, um discurso sob pressão social.
Dos militares não se pode exigir mais do que cumpram os seus deveres. São muito bem pagos para isso. Eles são parte de instituições do Estado treinados para ter honra, o valor principal de um guerreiro, seja soldado ou general.
Assim sendo, ter honra, honrar a farda e o país, não significa mais do que cumprir sua obrigação para com a sociedade.
Sem honra, a guerra estará perdida.
Foto: arte BNC Amazonas