Ianomâmis denunciam que garimpeiros seguem agindo e criticam operação
Relatório "Nós ainda estamos sofrendo” expõe aumento de doenças e de mortes e dizimação gradativa dos indígenas

Ferreira Gabriel
Publicado em: 03/08/2023 às 22:22 | Atualizado em: 03/08/2023 às 23:36
Três organizações Ianomâmis denunciaram que os indígenas seguem em clima de tensão e de ameaças de garimpeiros.
Apesar da retirada de grande parte dos garimpeiros em ações do governo federal, muitos deles continuam aguardando o afrouxamento das operações, conforme aponta o balanço de 43 páginas elaborado pelas entidades.
O documento intitulado “Yamaki ni ohotai xoa! = Nós ainda estamos sofrendo” expõe aumento de doenças e, consequentemente, o número de óbitos, o conflito entre as comunidades, a cooptação de jovens para o crime organizado, o enfraquecimento da agricultura familiar de subsistência, e a dizimação gradativa do povo Ianomâmi, uma vez que o mercúrio tem limitado a capacidade reprodutiva das mulheres.
O relatório reconhece pontos positivos das operações, principalmente as ações associadas à estratégia de “estrangulamento logístico” e admite que houve redução de garimpo em determinadas áreas, mas detalha que a ação governamental tem falhas. Os indígenas também criticaram informes precipitados de órgãos governamentais, quando autoridades da Polícia Federal anunciaram em tom comemorativo o fim dos alertas de garimpo na TI Ianomâmi.
“Em junho deste ano, o governo veio a público comemorar o fim dos alertas de garimpo na TIY, depois que o sistema de monitoramento da Polícia Federal ficou mais de 30 dias sem detectar alterações na cobertura florestal que sugerissem a abertura de novas áreas para a exploração mineral.
Algumas autoridades chegaram inclusive a declarar que isso significava na prática o fim da atividade ilegal na TIY, depois de pouco mais de quatro meses de operação. Infelizmente, a ausência de novos alertas não significa a neutralização completa do garimpo”, diz trecho do documento elaborado pela Hutukara Associação Ianomâmi, Associação Wanasseduume Ye’kwana e Urihi Associação Ianomâmi.
Segundo o relatório, retornos graduais de pequenos grupos de invasores estão sendo identificados em regiões como Parafuri, Xitei e Homoxi.
“Os Yanomami informam que garimpeiros seguem trabalhando próximo às aldeias, sendo abastecidos com alimentação e combustível com voos regulares de helicópteros”, diz trecho.
Outra ação criticada pelas organizações é a decisão do governo de não fechar os acessos ao território indígena para a logística garimpeira e manter aberto três “corredores” com o intuito de viabilizar a saída espontânea dos criminosos ao longo de dois meses, cedendo aos interesses de políticos de Roraima.
“A Operação ‘Escudo Yanomami’ só conseguiu manter a restrição total de voos do garimpo por seis dias. Se por um lado essa opção reduziu os custos das ações de combate à atividade por parte do Estado, por outro, permitiu que muitos financiadores retirassem seus equipamentos da Terra Indígena, sem maiores prejuízos e constrangimentos [com repercussões, inclusive, para as investigações sobre a ação desses grupos criminosos]”, diz o relatório.
Conforme o documento, a invasão persiste e acontece, mesmo em menor escala, por meios de balsa no rio Catrimani e no rio Apiaú. Nesta área, inclusive, foi observada a entrada recente de novas retroescavadeiras. Os indígenas têm uma preocupação especial porque é nessa região que vive um grupo em isolamento voluntário, conhecido como Moxihatëtëma.
Leia mais na reportagem de Felipe Medeiros da Amazônia Real publicada no Unisinos
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Foto: Reprodução/ FAB