Médicos negacionistas iniciam uma campanha antivacina no Brasi
Com a queda na cobertura vacinal no Brasil, a entidade também divulga terapias alternativas. Especialistas e autoridades expressam preocupação com o impacto dessas ações na saúde pública.

Diamantino Junior
Publicado em: 24/07/2023 às 15:57 | Atualizado em: 24/07/2023 às 15:57
A Associação Médicos pela Vida (MPV), condenada pela Justiça a pagar R$ 10 milhões por danos à saúde pública por promover medicamentos ineficazes contra a covid-19, agora atua disseminando desinformação científica antivacina.
Durante a pandemia, a entidade divulgou remédios como hidroxicloroquina e ivermectina e, atualmente, em eventos on-line e presenciais, aposta no discurso contrário à vacinação. O Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal.
A entidade, que replica métodos de grupos de médicos negacionistas estrangeiros, também oferece visibilidade a empresas de “terapias alternativas” como opção para quem se opõe à vacinação ou busca um “detox vacinal”.
Em nota, o Médicos pela Vida alega promover um “debate científico sério” e nega propagar desinformação, afirmando noticiar apenas o que é “benéfico” para os pacientes.
A atuação antivacina do MPV preocupa autoridades e especialistas em meio à diminuição da cobertura vacinal no país. Pesquisas mostram que a adesão aos imunizantes oferecidos pelo SUS reduziu significativamente. A SBP revelou que quase metade dos pediatras atendeu famílias que se recusaram a seguir o calendário vacinal, citando medo de efeitos adversos e falta de confiança na segurança das vacinas.
Fundada em 2020 para defender drogas ineficazes contra a covid-19, a associação chegou a publicar um informe publicitário defendendo o “kit Covid”, que incluía medicamentos sem comprovação científica. Durante a CPI da pandemia, foi revelado que a publicação havia sido financiada pela Vitamedic, que também foi condenada pela Justiça.
Entre os maiores eventos promovidos pelo MPV, destaca-se um congresso em Foz do Iguaçu (PR), onde médicos nacionais e internacionais promoveram medicamentos como a ivermectina e criticaram as vacinas anticovid.
A associação contou com o apoio da Front Line Covid-19 Critical Care Alliance, que atua de maneira similar nos EUA, oferecendo tratamentos não validados pela ciência e terapias para reverter supostos danos causados por vacinas.
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Além de patrocinadoras de terapias naturais, a rede varejista Havan também apoiou o congresso do MPV, e a startup Doctor8, que ofereceu telemedicina gratuita para o “tratamento precoce”, foi outra patrocinadora.
Essas empresas continuam mantendo relação com a associação após o evento. A entidade nega espalhar desinformação, mas especialistas destacam os malefícios dessas práticas.
O Ministério da Saúde prepara uma iniciativa para combater a disseminação de informações falsas contra as vacinas.
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Foto: Rede Brasil Atual