Um planeta Terra para todos, com vida digna e respeito à cultura dos povos
O autor reflete: "Não importa se você é cearense, venezuelano, haitiano, japonês ou alemão e mora em Manaus."

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*
Publicado em: 20/06/2023 às 12:01 | Atualizado em: 20/06/2023 às 12:01
Certa vez, em Brasília, tomando uma gelada no Beirute, perguntei a um artesão que vendia seu trabalho no bar: você é de onde? Ele respondeu: sou terráqueo.
Adorei e fiquei a refletir.
Somos todos do mesmo planeta. A terra é nossa morada. A divisão geofísica é coisa inventada para delimitar poder e dominação. Kafka viaja bem sobre isto em “A Muralha da China”.
Faço esta introdução para responder àqueles que procuram reduzir o ser humano a um espaço limitado, vendo-o como eterno prisioneiro dentro de uma célula ou entre grades imaginárias. Na verdade, quem pensa assim é que está preso, confinado na sua mesquinharia existencial.
Não importa se você é cearense, venezuelano, haitiano, japonês ou alemão e mora em Manaus. Somos todos seres humanos que habitam um mesmo planeta. O espaço não nos faz mais nem menos seres humanos, pois podemos construí-lo para o nosso bem-estar.
A xenofobia é mais um dos preconceitos que geram violência, tanto física quanto simbólica. É desumana, mesquinha, excludente. Um ser humano com um mínimo de espírito de solidariedade jamais será um xenófobo.
Hoje, a pauta ambiental de defesa do planeta não pode se limitar à manutenção da estrutura física onde vivemos. É preciso discutir quais relações queremos ter dentro do globo terrestre, porque a destruição do meio ambiente e de vidas não é metafísica. Ela é real e tem seus sujeitos coletivos.
A relações que existem hoje no planeta terra, seja na divisão internacional do trabalho, no antagonismo de classes ou no combate e enterro do humanismo excluem as possibilidades de vida digna ao ser humano, na sua grande e esmagadora maioria.
É preciso que o debate ambiental incorpore os problemas estruturais da humanidade. Planeta pra quem? Até agora o povo trabalhador produz para gerar meia-dúzia de bilionários, que ao acumularem riquezas e espalhados por todo planeta pisam nos cadáveres de crianças mortas pela fome.
Temos 108,4 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo, seja por questões geopolíticas ou por fuga das condições indignas onde vivem.
Repito: não basta defender o planeta. Temos que debater Planeta Pra Quem? O debate ambiental deve sair da histeria preservacionista e enfrentar as questões sérias da humanidade.
Só salvaremos o planeta se começarmos a salvar vidas e respeitarmos os espaços geográficos como espaço de vidas. O planeta deve servir como ambiente das mais diversas culturas, suas terras e águas devem ser respeitadas como bens coletivos e não como domínio do capital e de seus detentores.
Um planeta para todos.
*O autor é sociólogo
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil