Celular de Cid: militares discutem estratégias para golpe de Estado

Conversas entre militares e aliados de Bolsonaro revelam o debate sobre estratégias golpistas.

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Diamantino Junior

Publicado em: 16/06/2023 às 12:53 | Atualizado em: 16/06/2023 às 12:58

A análise do celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, pela Polícia Federal (PF) revelou diálogos perturbadores entre pessoas próximas ao ex-presidente e militares de alto escalão. A informação consta em matéria do jornal O Globo.

Segundo reportagem da revista Veja, Cid discutiu planos golpistas com o coronel Jean Lawand Junior, na época subchefe do Estado Maior do Exército, pouco antes do término do mandato de Bolsonaro.

As conversas contêm frases alarmantes, como “convença o 01 a salvar esse país”, “o presidente vai ser preso” e “pelo amor de Deus, faz alguma coisa”.

Pressão para colocar o plano em prática

Após a derrota de Bolsonaro nas eleições, Lawand continuou em contato frequente com Cid, exigindo repetidamente a implementação de um plano para contestar o resultado.

Procurado pela revista, o militar, indicado pelo governo Lula para ser o representante militar em Washington, afirmou ter uma relação de amizade com Cid e que suas conversas se limitavam a “amenidades”.

Negou se recordar de qualquer diálogo com teor golpista.

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O general Rosty também afirmou não se lembrar de tais conversas. Cid encontra-se preso desde o início de maio, após uma operação da PF relacionada a fraudes em cartões de vacina, na qual seu telefone foi apreendido.

Revelações nas mensagens

A revista Veja teve acesso às mensagens trocadas entre Lawand e Cid, revelando a intensidade das discussões e a preocupação em convencer Bolsonaro a agir.

Em uma conversa datada de 1° de dezembro, Lawand suplica a Cid que convença Bolsonaro a dar a ordem, argumentando que o povo está com ele e que o Exército Brasileiro seria comprometido se não cumprisse a ordem do “comandante supremo”.

Cid expressa a necessidade de confiança do presidente no Alto-Comando do Exército para que a ordem seja efetiva.

A resposta de Lawand revela a preocupação de que, se a cúpula do Exército não estiver alinhada, o apoio teria que vir do povo.

Mensagens e decepção

Outras mensagens trocadas entre Lawand e Cid no dia 2 e 12 de dezembro evidenciam a persistência do militar em cobrar ação e coragem por parte de Bolsonaro.

Lawand relata um encontro com Rosty, informando a Cid que, caso o Exército Brasileiro receba a ordem, cumprirá prontamente. No entanto, ressalta que o Exército não tomará iniciativas que possam ser vistas como golpe, deixando nas mãos do presidente a decisão final.

Em uma mensagem posterior, Lawand lamenta que nada será feito, expressando decepção e afirmando que o país foi entregue aos “bandidos”.

Foto: Alan Santos/PR