Deltan Dallagnol e o rabo do macaco

O devir da história mostrou que o criminoso e mau-caráter era, na verdade, o próprio Deltan

deltan e o rabo do macaco

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*

Publicado em: 17/06/2023 às 00:01 | Atualizado em: 15/06/2023 às 17:42

Na minha cidade natal, Parintins, diante de alguma atitude hipócrita é comum falarmos: “o problema do macaco é que ele só olha o rabo do outro”, o que quer dizer que a pessoa só observa as supostas falhas alheias e jamais as suas. Este é o caso do ex-procurador, ex-deputado federal e ex-paladino da moral Deltan Dallagnol. 

Deltan, juntamente com os demais procuradores da “Força Tarefa da Lava Jato” e o ex-juiz Sergio Moro, sempre acusou Lula de ser o chefe de uma poderosa organização criminosa. Com toda a convicção do mundo e sem nenhuma prova, ele, em sua fala de despedida do cargo de deputado federal, voltou a acusar Lula de ter recebido um triplex como pagamento de propina de uma construtora. 

O ex-deputado federal parece ter fixação em Lula. Talvez, se recorrêssemos à psicanálise freudiana encontraríamos interessantes respostas para tal comportamento. Todavia, eu prefiro recorrer à sabedoria das massas e, neste sentido, o adágio popular do macaco explica muito bem o problema do Deltan. Para o paranaense, natural de Pato Branco, todo mundo é criminoso e mau-caráter, menos ele. 

Todavia, no caso de Lula, o devir da história mostrou que o criminoso e mau-caráter era, na verdade, o próprio Deltan. De acordo com o entendimento de todos os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-parlamentar fraudou a Lei da Ficha Limpa ao pedir exoneração do Ministério Público Federal enquanto ainda tramitavam medidas disciplinares contra ele na referida instituição.

Deltan, portanto, tentou dar o famoso “jeitinho brasileiro” em uma situação desfavorável a ele. Com efeito, foi desmascarado pelo TSE. Isso que ele fez é mau-caratismo e, também, uma tentativa de burlar as regras eleitorais. O curioso disso tudo é que, nos poucos meses que atuou como deputado, Deltan foi duro em seus discursos contra a corrupção. 

A desfaçatez do ex-parlamentar, em sua curta passagem pela Câmara, foi constrangedora. Em uma de suas performances moralistas, ele praticamente acusou Flávio Dino, ministro da Justiça, de cometer o crime de associação criminosa, quando o mesmo esteve visitando o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. 

Caros(as) leitores(as), alerto que a chave para a compreensão dos arroubos moralistas de Deltan Dallagnol na Câmara Federal perpassa a questão do Cristianismo freestyle destes tempos hodiernos no Brasil. 

O ex-paladino da justiça é evangélico e carrega consigo uma ética frouxa, algo comum ao segmento religioso do qual ele faz parte. Os evangélicos, salvo as doces e raras exceções, são acusadores e caluniadores por natureza. Na verdade, o termo mais adequado para definirmos este grupo social é a perversidade. 

Neste sentido, Deltan é a materialização de uma falsa moral ascética que, no discurso, busca a perfeição espiritual, a austeridade e a rigidez da conduta moral. Entretanto, seus discursos são apenas sofismas de um playboy mimado. O que rege mesmo a vida de pessoas como Deltan é a hipocrisia, visto que, “por trás das câmeras” são corruptos, blasfemadores e indignos.  

Portanto, a cassação de Deltan foi um grande acerto da Justiça Eleitoral Brasileira. A decisão do TSE possui um caráter pedagógico e revela muitas coisas. Revela, por exemplo, que ele é um falso discípulo de Jesus, pois mesmo recorrendo ao Mestre por meio de jejuns e orações, para livrá-lo da cassação, ele não foi atendido. 

Concluo, afirmando que, a partir de constatações, há muito tempo Jesus não vem atendendo o pleito dos evangélicos brasileiros na questão política, somente eles é que não perceberam ainda a necessidade de agirem honestamente, reconhecendo a verdade e a justiça, para que sejam atendidos. 

Deltan e seus irmãos de fé continuam agindo conforme o adágio popular, ou seja, apenas olhando o rabo dos outros e se esquecendo de olhar os seus próprios.

*Sociólogo

Arte: Gilmal