A transição geracional na política do Amazonas
Carril destaca duas novas lideranças políticas de campos opostos que vêm crescendo e se destacando na política do Amazonas: Amon Mandel e Anne Moura

Mariane Veiga, por Lúcio Carril
Publicado em: 05/06/2023 às 22:52 | Atualizado em: 05/06/2023 às 23:12
Quando falo em transição geracional não me refiro somente à idade, mas àquela ação ou conduta que incorpore novos pensamentos, novas tecnologias, novas formas de comunicação e abordagem e um jeito peculiar da juventude.
Neste aspecto, vou destacar duas novas lideranças políticas de campos opostos, que vêm crescendo e se destacando na política do Amazonas: Amon Mandel e Anne Moura.
Amon Mandel é oriundo de família de classe média de funcionários públicos vinculados ao judiciário amazonense. Sua mãe é juíza, seu pai é professor universitário e auditor fiscal e seu avô é desembargador. Tem 22 anos, nasceu em Recife-PE, mas veio para Manaus com 5 anos de idade.
É um político de perfil liberal, centro-direita, mas com muita habilidade para transitar entre vários estratos sociais.
Amon se destacou na sua campanha para vereador em 2020, em Manaus, pela linguagem simples e interativa com a juventude. Instrumentalizou de forma competente as redes sociais e as mídias eletrônicas, alcançando um público jovem pouco acessado por políticos tradicionais. Eleito aos 19 anos, fez um mandato atuante na área ambiental e voltada pra juventude, além de cumprir com eficiência seu papel fiscalizador do executivo.
Teve destaque num Legislativo de 41 cadeiras. Claro, é preciso considerar a ineficiência e a estultice da quase totalidade dos vereadores de Manaus. O jovem Amon surfou com inteligência e modernidade nesse meio e se elegeu deputado federal em 2022, com a maior votação proporcional do país.
No outro lado do campo político, à esquerda, Anne Moura tem origem social na periferia de Manaus. Deu um salto longo ao sair da militância do PT na capital amazonense para a direção nacional do PT nacional, onde assumiu, aos 26 anos, a Secretaria Nacional de Desenvolvimento Econômico do partido. Feminista, não tardou a se tornar Secretária Nacional de Mulheres.
Anne foi candidata a vice-governadora do Amazonas na chapa com o Senador Eduardo Braga, em 2022. Se destacou por uma campanha de perfil próprio, enaltecendo o papel da mulher na política e apresentando propostas diferenciadas de inclusão social. Não permitiu que o velho Braga cantasse de galo na campanha, mantendo uma conduta altiva e independente.
Anne Moura é uma liderança em plena ascensão dentro do PT e na política do Amazonas. Vem se impondo com uma postura madura, boa de diálogo, sorriso largo e comunicação fácil com os estratos sociais populares e médios. É uma intelectual orgânica, no sentido gramsciano do termo.
Tanto Amon quanto Anne Moura têm ganhado relevo político por incorporarem novas práticas de atuação política num mundo de crescimento da influência da tecnologia de comunicação nas campanhas eleitorais e na interação com o povo, particularmente com segmentos sociais pouco alcançados pelos políticos tradicionais.
São dois políticos que tendem a incentivar a participação das novas gerações na política, inaugurando o uso das novas ferramentas tecnológicas e as novas linguagens delas surgidas.
Talvez estejamos vendo o surgimento de uma nova lavra de militantes políticos que nos leve ao século XXI.
O autor é sociólogo.
Foto: Ana Claudia Jatahy/MTUR