Da penitenciária, presos faturavam até R$ 200 mil com “golpe da UTI”

Publicado em: 23/11/2017 às 12:07 | Atualizado em: 23/11/2017 às 12:07

Em julho deste ano o Jornal Nacional, da TV Globo, divulgava que uma quadrilha que operava a partir da penitenciária de Mata Grande, no Mato Grosso. Hoje, dia 23, as polícias desse estado e do Amazonas cumprem 11 mandados de prisão em Rondonópolis e Cuiabá, informou o G1.

Usando celular, presos se passavam por médicos para obter informações de pessoas internadas em UTI de hospitais de vários estados, e então passavam a ligar para os familiares dos pacientes para extorquir e aplicar golpes.

Em Manaus, dez pessoas teriam caído no golpe, segundo a polícia.

Só no Rio de Janeiro, a Polícia Civil investigou o golpe em escutas telefônicas durante cinco meses e constatou que os criminosos usavam chips com o DDD de vários estados.

Nesse período, diz o telejornal, foram mais de 90 mil ligações, que rendia até R$ 200 mil por mês.

Veja como o golpe era aplicado, na transcrição do Jornal Nacional:

Golpista: Aqui quem fala contigo é o doutor Marcelo Arantes, médico e diretor clínico aqui do hospital. Tudo bem?

Vítima: Sim.

Golpista: Eu venho através dessa ligação não para repassar uma boa notícia para vocês familiares.

Vítima: Não! Espera, espera que eu tô chegando aí.

Golpista: Ele não faleceu, calma, mantenha a calma, que eu preciso da senhora calma nesse momento.

O golpista diz que o paciente piorou e precisa de exames com urgência.

Vítima: Pode fazer. Pode fazer, doutor. O mais rápido possível, pelo amor de Deus.

Golpista: Mantenha a calma, por favor. As sete tomografias, incluindo os antibióticos que o paciente vai fazer uso após as tomografias “ficou” no valor de R$ 9.800.

Vítima: Pode fazer.

Golpista: Pode fazer, né.

Vítima: Mas vocês só fazem o procedimento depois de ter efetuado o pagamento?

Golpista: Olha, infelizmente sim.

O falso médico pede um depósito.

Golpista: Vá pra agência bancária e, chegando lá, eu repasso a conta, o senhor efetua o pagamento e venha pro hospital pra gente dar início.

Vítima: Eu não tenho R$ 9 mil na minha conta assim.

Golpista: Qual o valor que o senhor tem de imediato?

Vítima: Eu não sei. Eu não sei, meu amigo.

O discurso é sempre o mesmo, com palavras complicadas.

Golpista: Nós vamos ter que submeter o paciente ainda agora, com extrema urgência, a sete tomografias computadorizadas LKF 3D de última geração. Se não realizar as tomografias ainda agora o paciente pode “vim” a óbito.

Os erros de português chamam a atenção.

Golpista: É uma hemorragia ainda não generalizada, situada próximo “a pâncreas” e ao fígado. O hospital hoje, no imediato, ele não disponibiliza do “amparato” pra estar cobrindo e realizando no ato do imediato como o paciente necessita. Se no decorrer desse prazo esta hemorragia venha a se alastrar ou se “explandir” pelo corpo do paciente, pode ser que venha a ocasionar até uma “multiplica” falência de órgãos.

Algumas vítimas desconfiam.

Vítima: O senhor deve ter me mandado algum dado errado. A conta tá em nome de pessoa física.

Golpista: Isso, mas é da pessoa física. É da doutora Natasha Costa.

E quando os parentes percebem que pode ser um golpe, os bandidos ameaçam.

Vítima: Me dá o nome do senhor e a procedência, faça o favor?

Golpista:  O senhor tome as providências do senhor, e assim que o senhor “vim” ao hospital, eu te entrego pessoalmente o atestado de óbito dela.

Para conseguir as informações dos pacientes, os bandidos enganavam os funcionários dos hospitais.

Golpista: É o doutor marcos, minha querida, tudo bom? Confirma pra mim o paciente que se encontra aqui no primeiro leito conosco, na unidade, minha querida, da UTI.

Atendente: Da cardio?

Golpista: Sim, sim.

Atendente: Doutor, eu não tenho autorização pra “mim” ficar passando o nome dos pacientes, não.

Golpista: O nosso sistema aqui está dando falha, está… Pra falar a verdade, eu não tô conseguindo nem prescrever, minha querida.

Atendente: Pois é, mas eu não posso passar esse tipo de informação.

Golpista: Não, mas só confirma pra mim o número do pronto-atendimento dela, minha querida. Você já vai tá me ajudando bastante.

Atendente: A última informação é a que eu posso passar pro senhor.

Reveja a notícia do Jornal Nacional e leia sobre a operação de hoje no G1/Amazonas.

 

Foto: Reprodução/TV