As estratégias do governo Lula para retomar as políticas de leitura
Com essas iniciativas, a Secretaria almeja colocar a literatura brasileira em destaque no cenário internacional.

Diamantino Junior
Publicado em: 23/04/2023 às 13:28 | Atualizado em: 23/04/2023 às 13:28
O secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba, fala sobre as ações do governo para retomar as políticas de leitura e implementar o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), em entrevista para a Agência Brasil.
Piúba destaca a modernização das bibliotecas, inclusive por meio da implementação das Bibliotecas Parque, que oferecem atividades educativas e culturais para a comunidade.
A recuperação de bibliotecas públicas fechadas e a promoção da bibliodiversidade na aquisição de acervos para bibliotecas também são prioridades do governo.
O Prêmio Carolina Maria de Jesus foi criado para incentivar a diversidade na literatura e atender as diretrizes da ministra da Cultura Margareth Menezes.
A implementação do PNLL é uma das ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Bibliotecas Parque
Para Fabiano Piúba é necessário atualizar o conceito tradicional de biblioteca e transformá-la em um “dínamo cultural”, como defendido pela Unesco.
Em vez de ser vista apenas como um depósito de livros, a biblioteca deve ser um centro cultural que oferece uma ampla gama de atividades educativas e lúdicas, com forte participação da comunidade.
Uma das maneiras de realizar essa mudança é através da implementação das Bibliotecas Parque, que são centros culturais em Medellín, na Colômbia, e no Rio de Janeiro.
Essas bibliotecas são conhecidas por suas atividades educativas e culturais, envolvimento da comunidade e inovação. A ideia é levar essas bibliotecas para áreas periféricas e vulneráveis, não necessariamente nas capitais.
Outro desafio é a recuperação das bibliotecas públicas fechadas nos últimos anos.
De acordo com o Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais de 2009, 1.152 municípios não contavam com bibliotecas públicas.
Embora tenha havido progresso em relação a essa meta em 2010, ainda há pelo menos 991 cidades brasileiras sem bibliotecas públicas.
A proposta agora é abrir um edital para que os municípios apresentem seus projetos de bibliotecas públicas, a fim de preencher essa lacuna.
Fomento à leitura deve considerar bibliodiversidade, diz secretário
O fomento à leitura e à produção editorial no Brasil deve ser pensado levando em conta a bibliodiversidade.
Para o Secretário de Cultura do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba, a diversidade da produção editorial de um país é fundamental para uma política de aquisição e atualização de acervos para bibliotecas públicas. Isso inclui uma variedade regional de editoras, autores independentes, diversidade cultural e étnica.
Para incentivar essa diversidade, a Secretaria lançou em abril deste ano o Prêmio Carolina Maria de Jesus, que selecionará 40 obras inéditas escritas por mulheres, com o valor de R$ 50 mil para cada uma das agraciadas.
O edital estabelece cotas importantes, como 20% no mínimo para mulheres negras, 10% para mulheres indígenas, 10% para mulheres com deficiência, 5% para mulheres ciganas e 5% para mulheres quilombolas.
Essas políticas afirmativas seguem as diretrizes da ministra da Cultura, Margareth Menezes, e compõem as estratégias da Secretaria para incentivar a diversidade na produção editorial do país.
É importante que as aquisições de livros para bibliotecas públicas possam abranger obras variadas e não se concentrar apenas na produção de poucas editoras da Região Sudeste, como costumava ser feito.
“Secretaria apresenta propostas para novo PAC do governo federal, incluindo kit de literatura para famílias do Minha Casa Minha Vida e retomada do programa Agentes de Leitura. Saiba mais sobre as iniciativas que buscam incentivar a leitura e criar ambientes favoráveis para o hábito em parceria com o MEC. Confira!”
Desafios de formar uma nação leitora
De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura”, do Instituto Pró-Livro, a formação leitora no Brasil enfrenta um desafio significativo.
A quinta edição da pesquisa, publicada em 2019, revelou uma redução no percentual de leitores entre 2015 e 2019, passando de 104,7 milhões para 100,1 milhões – uma queda de 4,6 milhões. Além disso, o país continua com quase 50% de não leitores.
Para o especialista em educação e doutor pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Piúba, um dos maiores desafios é a formação de leitores para a vida inteira.
Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2018, três em cada dez brasileiros entre 15 e 64 anos sofrem de analfabetismo funcional, o que significa que não conseguem compreender o que leem.
Para Piúba, um eixo crucial para a alfabetização plena é a formação leitora, com destaque para a literatura infantil e juvenil. Ele avalia que a escola brasileira precisa alfabetizar as crianças no tempo certo e garantir que os jovens cheguem ao ensino médio aptos a compreender textos complexos e dar um salto maior para chegar à universidade com essa capacidade de leitura e escrita.
O especialista defende que os programas de alfabetização devem enfatizar essa formação específica, que vem sendo tratada com o Ministério da Educação (MEC). Ele conclui que é mais importante saber o que podemos fazer com aquilo que lemos do que quantos livros lemos ao ano, comparando o Brasil com outros países.
Promoção da Literatura Brasileira
A Secretaria está comprometida em promover a literatura brasileira por meio de estratégias que incluem a participação de autores em importantes feiras literárias internacionais, como a Feira de Guadalajara e a Feira de Frankfurt.
Nestes eventos, realizam-se rodadas de negócios para compra e venda de direitos autorais, oportunidades que a Secretaria pretende aproveitar para equilibrar a balança comercial editorial e aumentar as vendas de direitos de obras brasileiras para o exterior.
Ademais, a Secretaria espera destacar recursos orçamentários para o programa de tradução de obras de autores brasileiros, coordenado pela Fundação Biblioteca Nacional.
Desta forma, busca-se ampliar a divulgação da produção literária brasileira em diferentes línguas e mercados, estabelecendo uma via de mão dupla que possibilite tanto a compra quanto a venda de direitos autorais.
Com essas iniciativas, a Secretaria almeja colocar a literatura brasileira em destaque no cenário internacional.
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil