Metaverso e sustentabilidade

A combinação entre metaverso e sustentabilidade, algo que parece ser paradoxal, na verdade é o grande desafio a ser enfrentado pelas empresas

Ferreira Gabriel, por Marcellus Campelo*

Publicado em: 05/04/2023 às 12:36 | Atualizado em: 05/04/2023 às 12:48

O impacto do metaverso no meio ambiente e o potencial que tem para tornar o mundo mais sustentável é uma questão que ainda não está muito clara, nem mesmo nos ambientes acadêmicos.

A combinação entre metaverso e sustentabilidade, algo que parece ser paradoxal, na verdade é o grande desafio a ser enfrentado pelas empresas que atuam no desenvolvimento de equipamentos de realidade virtual.

A plataforma que permite a interação entre os usuários no mundo virtual não chega a ser uma novidade, mas ganhou bastante fôlego com os avanços que vem alcançando em pouco tempo e as mudanças que deverá operar na sociedade como um todo, à medida em que a tecnologia se tornar mais acessível.

Com isso, é inevitável a discussão de como poderá ser usada para criar um mundo mais sustentável e como fazer para reduzir os possíveis impactos que, certamente, também irá gerar ao meio ambiente.

As possibilidades com o uso do metaverso são ilimitadas. No ambiente virtual, o usuário experimenta todos os sentidos – visão, olfato, paladar, audição. Sem sair de casa, sem se levantar da poltrona, pode testar carros, roupas e tudo o mais que esteja sendo lançado no mercado. Pode conhecer outras cidades, explorá-las turisticamente. Pode visitar imóveis que estejam à venda, percorrendo todos os cômodos e verificando todos os detalhes.

Reuniões, treinamentos e conferências podem ser realizados de forma remota, sem que as pessoas precisem se deslocar para o ambiente de trabalho ou para outras cidades.

As possibilidades, portanto, são infinitas e permitem vislumbrar, nesse aspecto, o impacto positivo que poderá gerar no consumo de combustíveis e na emissão de gás carbônico, ao proporcionar a redução dos deslocamentos das pessoas para o cumprimento de várias atividades do dia a dia.

Para o mundo corporativo, sem dúvida, o metaverso chega como um forte aliado nas práticas de ESG (sigla para abreviação, em inglês, de Ambiental, Social e Governança).

Para o meio ambiente, além dos efeitos já citados, tem sido apontado como ferramenta que pode, inclusive, contribuir na proteção à Floresta Amazônica. Criada em ambiente virtual, a floresta poderá ser amplamente estudada e monitorada pelos usuários, com relação ao desmatamento e à prática de atividades ilegais ou que possam prejudicar o meio ambiente.

É claro que essa não é uma tarefa simples e implicará em vários entraves a serem enfrentados pelas empresas que atuam no desenvolvimento de tecnologias para uso no metaverso: a imensidão da região, as áreas remotas, as dificuldades de conexão, dentre outras questões.

Ainda no campo ambiental, o metaverso poderá dar importante contribuição, ao disponibilizar experiências imersivas que possam ajudar na conscientização dos usuários em temas que são caros ao planeta, como descarte correto dos resíduos e reciclagem.

Na educação, de um modo geral, terá importante papel, por meio dos ambientes virtuais, da gameficação, dos livros digitais. Um grande avanço, sem dúvida.

Resta, agora, aguardar as respostas que virão das empresas para as dúvidas que ainda pairam no ar. A preocupação tem razão de ser. O desenvolvimento de novas tecnologias e produtos para o metaverso implica no crescimento de consumo energético, de descarte e poluição, o que se traduz, também, em aumento de CO2 na atmosfera.

Outra questão que está no centro da polêmica e que tem muito a ver com tudo isso é a preocupação com relação ao desenvolvimento avançado de inteligência artificial. Há poucos dias, causou surpresa e apreensão a carta aberta assinada por um grupo de especialistas e executivos do setor, pedindo pausa de seis meses no desenvolvimento avançado de IA, citando potenciais riscos para a sociedade e a humanidade. A carta destaca, ainda, que os protocolos de segurança de tais projetos devam ser compartilhados e auditados por especialistas independentes.

Fica patente, portanto, a necessidade de transparência em todo o processo. Espera-se que os avanços prometidos nesse admirável mundo novo não impliquem em riscos ou em retrocessos. É preciso que os mecanismos de sustentabilidade estejam presentes em todo o processo, para que traga benefícios, sem comprometer a saúde do planeta.

*O autor é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas.

Foto: divulgação