Os meios e os fins
Política e ética, na visão aristotélica, são a mesma coisa

Mariane Veiga
Publicado em: 20/03/2023 às 16:32 | Atualizado em: 20/03/2023 às 16:51
Dizia Sartre que fazer política é sujar as mãos, e a elegância recomenda não lembrar em quê. A “Realpolitik”, expressão associada ao chanceler Bismarck, é necessária? As ideias podem ser colocadas no embornal do esquecimento, quando se trata de chegar ao poder? Deve se chegar ao poder, seja como for, para nele, recuperá-las e fazê-las governar? Estas são perguntas que, podemos estar certos, já eram ouvidas nas praças atenienses, em horas de decisão.
Ora, a questão não é tão simples, porque se amarra à essência ética do ato político. É legítima a constituição de alianças, para a consecução de um objetivo que sirva, em parte, a todas as partes, mas não sirva mais a um do que a outros.
Na melhor das hipóteses, tais contratos devem atender a uma correlação de forças, como ocorre nas relações mercantis: quem tem mais capital tem mais voz e mais votos, os minoritários devem ser respeitados, mas na proporção de seu poder.
Supõe-se que tais alianças estejam formadas em torno de um programa comum, e que todos sejam servidores do pacto, conforme a máxima romana do Direito.
Será, no entanto, aceitável, no fazer político, o recurso deliberado à dissimulação, a fim de enganar os parceiros e os eleitores, na apresentação de um programa e execução de outro? Estamos diante dessas indagações, nesta hora. Há duas questões separadas. Uma delas é a da invocada solidariedade do governo com os seus aliados. Segundo acusam.
Ora liberar parte do orçamento secreto para ter base no governo não deixa de ser o famoso mensalão.
Tais procedimentos deixam rastros indeléveis, que são sempre encontrados, mesmo quando se usam as estradas eletrônicas.
É preciso que haja transparência para que a atividade política no Brasil se submeta aos princípios éticos.
Política e ética, na visão aristotélica, são a mesma coisa. Desprovida de ética, a atividade que se identifica como política não é política – a menos que estejamos dispostos a reconhecer, como organizações políticas, o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, e permitir que realizem suas convenções e registrem os seus candidatos.
Foto: Rodolfo Stuckert/CNJ