“Vão estar todos juntos; não tem outra saída para eles”, afirma Eron Bezerra

Publicado em: 04/11/2017 às 07:55 | Atualizado em: 04/11/2017 às 08:05

Por Neuton Corrêa e Rosiene Carvalho, da Redação

 

 

O presidente estadual do PCdoB, Eron Bezerra, declarou, em entrevista ao BNC que  todas as lideranças  políticas conservadoras do Estados estão em processo de reagrupamento em torno do governador eleito Amazonino Mendes (PDT) e que, em 2018, Eduardo Braga (PMDB), Omar Aziz (PSD), Arthur Neto (PSDB) estarão todos no mesmo palanque.

“A vitória do Amazonino  reagrupa um campo conservador que estava disperso. O Amazonino chega e enquadra de volta todo mundo: Artur, Omar, Eduardo… Vão  brigar por lá para ser vice dele e disputar as vagas do Senado (…) Eles vão estar juntos. Eles não têm outra saída”, afirmou Eron Bezerra.

Na mesma entrevista, fala da tentativa de formar o bloco de centro-esquerda com o PSB e PT para enfrentar o “bloco monolítico” conservador do Estado, ao qual o PCdoB esteve associado nos últimos anos. Ele explica porque nos últimos anos PT e PCdoB não conseguiram ficar juntos no Amazonas. “A esquerda só se une na desgraça”.

Para Eron, PCdoB manteve a coerência na esquerda e esse é o principal trunfo da sigla.

Eron desafia o prefeito de Manaus Artur Neto (PSDB) para um tira-teima das Eleições 2010 num confronto com Vanessa Grazziotin na disputa pelo Senado em 2018. Em 2010, com o forte apoio de Eduardo Braga (PMDB), Vanessa venceu Artur com uma diferença de 30 mil votos. Nas Eleições 2012, Artur derrotou Vanessa na disputa pela Prefeitura de Manaus.

Para Eron, hoje o cenário é diferente e Artur é o candidato “mais fácil de ser derrotado”. Eron também faz críticas a bancada que apoiou o presidente da República Michel Temer (PMDB) a se livrar das investigações de corrupção e não conseguem defender a Zona Franca de Manaus das medidas federais de ataque ao modelo. Diz que os parlamentares terão que se explicar nas urnas.

O presidente estadual do PCdoB cogita que o nome de Eduardo Braga estará na disputa a uma das vagas ao Senado e diz que ele “está longe de estar morto”.

O líder comunista também faz análises sobre a polarização política atual do País e fala como o PCdoB se organiza para enfrentar as críticas à esquerda e manutenção das propostas da esquerda nos espaços de governo. Eron afirma que passeatas e protestos estão na agenda para retirar a população da letargia.

 

Vanessa X Artur

Eron disse, ainda, que pesquisas internas do PCdoB apontam Vanessa Grazziotin em boas condições de disputar a reeleição ao Senado. O ex-secretário da Sepror diz que Vanessa virou uma liderança nacional e, ao contrário do prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto (PSDB), que “trabalhou a matéria” para inserção do nome dele no cenário nacional, Vanessa está sendo apontado pelo próprio partido como opção à presidência da República.

Para Eron, o principal atributo de Vanessa é ter mantido historicamente a coerência na esquerda.

“O Artur é o melhor candidato para a gente derrotar. Artur  é desse campo ideológico conservador e defende essa política de desmonte, de privatização. O  PSDB defende programaticamente isso (…) E pergunto quem são os eventuais adversários da Vanessa? Da bancada federal, ninguém. Nenhum deles sobrevive a esse tiroteio do Temer. O Artur? Com essas ruas esburacadas de Manaus, com nenhuma promessa cumprida em dois mandatos? E com um pequeno detalhe: Artur tem que largar o cofre em março. Ele terá a coragem de fazer isso?”, disse.

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Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida ao BNC Entrevista na quarta-feira, dia 1º.

 

Vamos fazer caminhadas, passeatas porque a população precisa sair da letargia.

 

Rosiene Carvalho: Quais os objetivos para esta nova gestão do PcdoB no Estado do Amazonas?

Eron Bezera: Primeiro, intensificar uma pauta política. O início da década de 80, fim do período militar, foi caracterizado por efervescência política nas ruas. E hoje eu fico abismado como o presidente da República reduz de R$ 969 para R$ 965 e não tem um ai de nenhum canto. A pauta central é justamente a de não permitir a retirada de direitos. A Zona Franca sofreu um duro golpe  apesar dos votos da bancada, o pagamento que o Temer dá á Zona Franca de Manaus é de retaliação. Partido político não é só para disputar a eleição. É para liderar e levantar bandeiras de interesse da sociedade. Posso pegar outros exemplos: a tentativa de abrir as reservas para exploração mineral na Amazônia, da privatização satélite que tinha como objetivo assegurar a banda larga para o Brasil, inclusive na Amazônia. Isso ameaça a nossa soberania. Vamos fazer caminhadas, passeatas porque a população precisa sair da letargia.

 

Neuton Corrêa: Essa questão ideológica está em voga novamente?

Eron Bezerra: Ela se impôs. Por 10% do que o Aécio fez, o Delcídio do Amaral foi preso e teve o mandato cassado. Por 1% do que Temer fez, Dilma foi cassada. O que é isso senão a exacerbação da luta de classe.? O Temer está executando a política da classe dominante, internacional. Estão querendo arrancar o máximo que pode do trabalhador. E o trabalhador, ainda tonto, porque criminalizou-se a política e todo mundo é bandido.

 

Rosiene Carvalho: O País está vivendo um momento de muito ódio, de posições de extremos e, nesse contexto as pessoas reproduzem termos como comunismo e esquerdismos com alto grau pejorativo. Como o PCdoB enfrentará este momento?

Eron Bezerra: A realidade hoje é bem diferente do golpe de 64, cuja pauta central era  essa: impedir o avanço do comunismo no mundo. A pauta da direita sempre foi uma só: combate a corrupção, que eles praticam como  estamos vendo e costumam colocar a culpa no inimigo. E a pauta do terror político. Dizem que não se pode tornar o Brasil numa Venezuela. Para nós, esse peso é bem menor que em 1964 por uma razão simples: temos entre as maiores potências do mundo a China que é uma nação socialista e nos mostra o exemplo. Ninguém pode distribuir miséria. A China  tem como meta crescer e enriquecer o seu povo. A única maneira de ser socialista é ter o povo todo vivendo bem.

 

Rosiene Carvalho: Esse discurso de ódio prejudica futuras candidatura do PCdoB?

Eron Bezerra: Acho que não. Quando meu inimigo me critica é bom, quando meu inimigo começa a me elogiar é que eu tenho que me preocupar. Vou dar um exemplo: Aldo Rebelo, começou a ser elogiado pela direita e acabou de sair do partido.

 

Mas vamos ser sinceros aqui, Lula é um homem de centro. Nunca foi e nem vai ser home de esquerda (…) O PT cometeu inúmeros erros. O primeiro foi imaginar que havia chegado ao poder. Chegaram no Governo, o poder é outra coisa.

 

Rosiene Carvalho: Lula também foi elogiado por forças conservadores de direita.

Eron Bezerra: Mas vamos ser sinceros aqui, Lula é um homem de centro. Nunca foi e nem vai ser home de esquerda. O Lula é um político de centro-esquerda. Essa é uma primeira questão que precisa ficar clara. O PT cometeu inúmeros erros. O primeiro foi imaginar que havia chegado ao poder. Chegaram no Governo, o poder é outra coisa. O poder, na sociologia, é tomada do poder econômico e dos meios de produção. O PT  sequer chegou perto. Por essa razão, não tomaram nenhuma ação estruturante para construção de um outro projeto.

 

Neuton Corrêa: O PCdoB também não se seduziu pela direita? Aqui no Amazonas esteve sempre com o PMDB e justificava que era em função da conjuntura nacional. Não é muito confortável adotar esse discurso?

Eron Bezerra: Nós entendemos que ninguém vai a lugar nenhum sozinho. Quando você não faz esses arranjos e composições em certa medida você permite que todos eles se agrupem. Isso não e inteligente. Muitos querem ocupar a função cômoda de oposição (…) É preciso fazer coisas que você não sente prazer, para ser bem sincero. Aí está a distinção política entre alguém que consegue não satisfazer apenas seus desejos pessoais.

 

Rosiene Carvalho: O senhor foi citado numa delação com a senadora Vanessa sobre recebimento de dinheiro no departamento de propina da Odebrecht na sua presença. Como o senhor está lidando com esta questão?

Eron Bezerra: Primeiro, vamos devagar. Nós nunca fomos acusados de ter recebido propina. O cidadão disse que tinha dado dinheiro de Caixa 2 para a campanha eleitoral. Ele diz na própria delação dele que nunca teve contato com a senadora Vanessa e nunca mais teve. Que ele tinha interesse em estabelecer contatos… Bom isso já foi arquivado.

 

Rosiene Carvalho: Foi retirado do âmbito da Lava-Jato.

Eron Bezerra:  Perfeitamente.

 

Rosiene Carvalho: Mas não foi arquivado…

Eron Bezerra: Foi arquivado na Lava-Jato. E foi mandado para o TSE para tratar de eventual questão de Caixa 2, que não se sustenta porque nós comprovamos que recebemos doação legalmente. A doação que o cidadão disse que passou em Caixa 2 está declarada na prestação de contas em nome de uma empresa que eles operavam. Quando veio aquela informação, nós de fato ficamos preocupados. Porque não aparecia na nossa prestação de contas essa doação. Depois, o Estado de São Paulo publicou uma longa matéria explicando por onde a Odebrecht fazia os financiamentos, umas duas ou três empresas. Fomos checar a prestação de contas e estava lá e registrada em cartório. Você acabou de dar um exemplo do que eu estava dizendo, na irresponsabilidade ou na vala comum. Primeiro, nós nunca tivemos na Lava-Jato. Aquilo era uma acusação de Caixa 2, não era de propina…

 

Rosiene Carvalho: Aí há um jogo de palavras também. São informações que estão sendo levantadas. Eu não disse que vocês receberam propina. Fiz uma pergunta. Na verdade, quando um jornalista faz uma pergunta ele está tendo a responsabilidade de dar o espaço para que o senhor possa esclarecer o que considerar que pode esclarecer. O senhor já tinha falado a esse respeito?

Eron Bezerra: Várias vezes. Fizemos uma coletiva quando foi retirado o nosso nome.

 

Rosiene Carvalho: Acha que foi o suficiente para esclarecer a questão?

Eron Bezerra: Não, primeiro como eu acabei de dizer, eu vou dizer dez vezes e as pessoas e as pessoas … porque a questão é ideológica. Ninguém está interessado nessa questão … Isso é uma questão ideológica.

 

Rosiene Carvalho: O senhor acha que não? Não é colocar todo mundo mais uma vez na vala comum também?

Eron Bezerra: Não, está nada (interessada em explicação). Está nada. É mais ou menos isso mesmo. Quem me conhece sabe que jamais eu vou cometer uma impropriedade. Quem não me conhece acha que todo mundo é bandido.

 

 Lava-jato é corruplão e Caixa 2 não é corrupção.

 

Neuton Corrêa: Tem uma pergunta aqui de quem nos assiste: a delação contra o PT e o Lula não vale e contra os outros vale?

Eron Bezerra: Eu adoto a mesma regra. Delação sem prova, para mim, não existe. Então, o nosso nome de maneira inapropriada foi parar na chamada Lista do Fachin. Prudentemente e oportunamente, ele retirou. E nós divulgamos isso amplamente. Fomos retirados da lista da Lava-Jato onde jamais poderíamos estar porque mesmo, vou repetir, porque o delator nunca falou de propina e sim de Caixa 2.

 

Rosiene Carvalho: É mais leve ser investigado por uma irregularidade, uma denúncia de Caixa 2 fora da Lava-Jato? A Lava-Jato tem um peso?

Eron Bezerra: Lava-jato é corrupção e Caixa 2 não é corrupção.

 

Rosiene Carvalho: O que é Caixa 2 para o senhor?

Eron Bezerra: Nós nunca fizemos o Caixa 2 porque nunca pudemos fazer o Caixa 1. Já disputei algumas eleições e, honestamente, nunca vi campanha sem Caixa 2. Nós não fizemos, está comprovado. Isso para nós é tranquilo porque nós não fizemos Caixa 2, embora a acusação seja de Caixa 2 e nunca foi de corrupção.

 

Neuton Corrêa: Na sua eleição à presidência do PCdoB, foi sinalizada uma aproximação do PT, PSB e também do (presidente da ALE-AM) David Almeida. Isso é realmente um realinhamento para 2018?

Eron Bezerra: Eu sempre conversei com o PT a necessidade de fazer um bloco. Isso não quer dizer ficar preso a este bloco. A vitória do Amazonino  reagrupa um campo conservador que estava disperso. O Amazonino chega e enquadra de volta todo mundo: Artur, Omar, Eduardo… Vão  brigar por lá para ser vice dele e disputar as vagas de Senado.

 

Neuton Corrêa: Acha que podem estar juntos?

Eron Bezerra: Eles vão estar juntos. Eles não têm outra saída. Olha, isso facilita o nosso trabalho. Porque, automaticamente, quem não está a favor deste grupo monolítico deles. E quem é que tem força fora desse campo? PcdoB, PT e PSB. Ou não é? Ou não é? David Almeida e Rebecca são lideranças emergentes. Essa é uma realidade objetiva.

 

A realidade é que o David terá que encontrar um partido para disputar a eleição, seja qual cargo for. Queremos um bloco unitário e não eliminamos composição. 

 

Neuton Corrêa: Vocês convidaram David Almeida a se filiar?

Eron Bezerra: Nós não tratamos disso ainda. Até porque ele tem um prazo legal. Mas a realidade é que o David terá que encontrar um partido para disputar a eleição, seja qual cargo for. Queremos um bloco unitário e não eliminamos composição. Esse é o preço que todo revolucionário tem que pagar para ver avançar a sociedade. É preciso sair do estado cômodo da oposição e assumir os riscos de críticas de um governo.

 

Tem uma piada, me permita contar uma piada, que a esquerda só se une na cadeia. (risos) Ou seja, só se une na desgraça. A realidade nos impõe situações. 

 

Rosiene Carvalho: O senhor acha que este bloco de centro-esquerda cria liga e se confirma em 2018, considerando que enquanto o PT esteve no governo esses partidos não se aliaram?

Eron Bezerra: Tem uma piada, me permita contar uma piada, que a esquerda só se une na cadeia. (risos) Ou seja, só se une na desgraça. A realidade nos impõe situações. Nós nunca tivemos em campos iguais no Amazonas por várias razões. A visão deles nunca batia com a nossa. Raramente nos apoiamos. Para se ter ideia, a Vanessa se elegeu senadora contra uma candidata que não era uma qualquer. Era a ex-reitora da UEA, Marilene Corrêa (PT).

 

Rosiene Carvalho: Ela retirou votos na senadora Vanessa na ocaisão…

 Eron Bezerra: Só 300 mil. Eles têm confusão de análise. Porque ali, derrotar a Vanessa, seria colocar na vaga uma pessoa da oposição. Não é o Artur.Não vamos fulanizar. Mesmo torcendo  o nariz tenho que saber o que é menos pior para a população. Por 30 mil votos ganhamos, mas a Marilene com 300 mil votos quase reforça o campo de direito no Congresso Nacional. Isso é análise de quem quer governar o País?

 

Neuton Corrêa: E o PR?

Eron Bezerra: Não temos prevenção contra ninguém que queira sair do bloco monolítico. Ou você quebra o bloco da classe dominante ou vai ficar brincando de oposição. Agora, PR e PP são partidos  da base de apoio ao Governo e qual a liberdade que as lideranças aqui  terão para tomar decisão que seja contra o bloco hegemônico nacional?

 

Rosiene Carvalho: O senhor acha que, da mesma forma que ocorreu na ocasião da vitória da Vanessa, forças nacionais  podem se unir  para tentar derrotá-la, como na derrota do Artur Neto em  2010?

Eron Bezerra: A situação é hoje diferente. A Vanessa é uma liderança nacional. Tanto que foi lançada para disputar a presidência da República. Diferente do Artur que que sei que ele trabalhou a matéria. A Vanessa não, ela foi lançada pelo partido. Inclusive, ela nem tem muito interesse. Qualquer pesquisa que você analisar, tirando a dos torcedores, a Vanessa está entre os três mais votados para o Senado.

 

Artur tem que largar o cofre em março. Ele terá a coragem de fazer isso? (…) O Artur é o melhor candidato para a gente derrotar. 

 

Rosiene Carvalho: O PCdoB tem pesquisas internas?

Eron Bezerra: Várias.  Manaus e interior. Em Manaus, ela está crescendo. Vanessa tem uma adesão na capital enorme e é uma candidata forte, mas longe de estar eleita. E pergunto quem são os eventuais adversários da Vanessa? Da bancada federal, ninguém. Nenhum deles sobrevive a esse tiroteio do Temer. O Artur? Com essas ruas esburacadas de Manaus, com nenhuma promessa cumprida em dois mandatos? E com um pequeno detalhe: Artur tem que largar o cofre em março. Ele terá a coragem de fazer isso?

 

Eduardo pode ser candidato ao Senado ou outra função. Está longe de estar morto. Dizer que ele não é um candidato forte é um delírio. Mas, nós temos um entendimento que esgrimamos com a coerência.

 

 

Neuton Corrêa: O senhor acha que vai ser um tira-teima da eleição de 2010?

Eron Bezerra: Ótimo. O Artur é o melhor candidato para a gente derrotar. Artur  é desse campo ideológico conservador e defende essa política de desmonte, de privatização. O  PSDB defende programaticamente isso. Com uma linha conservadora. Possivelmente teremos outros candidatos: Eduardo que pode ser candidato ao Senado ou outra função. Está longe de estar morto. Dizer que ele não é um candidato forte é um delírio. Mas, nós temos um entendimento que esgrimamos com a coerência.

 

Rosiene Carvalho: Esse rompimento com o Eduardo é irrevogável para 2018?

Eron Bezerra: Nós não rompemos com  Eduardo. Ele se afastou, ele buscou de volta se reagrupar. Taticamente os comunistas sempre lutarão para fragmentar o adversário. É que o adversário às vezes se gruda igual carrapato.

 

Rosiene Carvalho: O senhor será candidato em 2018?

Eron Bezerra: Eu não gostaria. Mas se o partido entender que devo.