MPE pede cassação do deputado Silas Câmara
Pastor deputado que confessou se apropriar de salário de servidores de seu gabinete está diante de nova denúncia

Neuton Corrêa, do BNC AMAZONAS
Publicado em: 20/12/2022 às 05:24 | Atualizado em: 20/12/2022 às 05:24
O Ministério Público Eleitoral (MPE) ingressou ontem, 19, com pedido de cassação do diploma de deputado federal Silas Câmara (Republicanos).
O MPE acusa o parlamentar de gastos ilícitos com fretamento de aeronaves para a campanha do parlamentar.
A representação, assinada pela procuradora eleitoral auxiliar Lígia Cireno Teobaldo, lista uma série irregularidades graves cometidas no fretamento de quatro aerovanves.
O gasto com essas despesas foi de quase R$ 400 mil (R$ 396,5 mil). O valor representa 12,73% dos R$ 3,1 milhões que ele recebeu para se reeleger.
Mas o problema não é tão somente o valor.
Cruzando a prestação de contas de Silas com notas fiscais, documento dos voos e diário de bordo dos pilotos, o Ministério Público Eleitoral aponta várias inconsistências.
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Acre
Um desses problemas diz respeito ao deslocamento das aeronaves fretadas no Amazonas pelo deputado para o Acre.
O vizinho Estado é base política da esposa de Silas Câmara, a deputada federal Antonia Lúcia (Republicanos-AM). Na eleição deste ano, ela se reelegeu ao cargo.
“Bate e volta”
Outro detalhe que chamou a atenção do MPE foi quanto às viagens “bate e volta” dos voos. A procuradora cita deslocamentos ocorridos nos dias 22 e 23 de agosto num avião da empresas Amazonaves.
São viagens nas quais a arenovave não chega a permanecer uma hora em solo.
Veja o quadro citado

Diante disso, Lígia Cireno conclui que o tempo não permite dizer que, nesses destinos o deputado fez campanha política.
“Apesar das várias escalas, nota-se que, em nenhuma delas, a aeronave permaneceu em solo por mais de uma hora, o que é incompatível com a atividade regular de uma campanha eleitoral”.
Além disso, a procuradora também questiona a breve passagem do avião por Rio Branco.
“Verifica-se aqui a mesma irregularidade presente no fretamento com a empresa A.R.T. TAXI AÉREO, ou seja, trata-se de um voo de ida e volta com pernoite em Rio Branco/AC”.
Lígia Cireno questiona, apontando ainda transporte irregular de passageis, acima da capacidade permitida.
“Nesse contexto, indaga-se: por qual razão o candidato fretaria um avião para levar diversas pessoas sem vínculo com a campanha, inclusive crianças de colo, para outro Estado da Federação, em uma viagem de ida e volta, com curtas paradas?”.
Ausência do candidato
Outro problema grave que consta da denúncia contra SIlas Câmara é quanto a ausência dele das viagens.
Carona
Há, por fim, outras irregularidades apontadas na denúncia. Essas são as caronas que Silas deu a candidatos a deputados estaduais apoiados por ele. Um desses é seu irmão Dan Câmara (PSC), que se elegeu deputado estadual.
O MPE aponta que Silas Câmara deveria ter deduzido a passagem dele como valor estimável, o que não aconteceu.
Em suas conclusões, a procuradora pede que o deputado devolta R$ 319,6 aos cofres públicos. E finaliza.
“Que seja julgada procedente a presente representação para condenar o representado às sanções previstas nos § 2º do art. 30- A da Lei nº 9.504/97, aplicando a penalidade de cassação do diploma, já outorgado na cerimônia de 12.12.2022”.
Veja a denúncia, na íntegra
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