Bolsonaro omite desmatamento na Amazônia por vaga na OCDE
O governo escondeu o crescimento de 73% da taxa de desmatamento

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 19/10/2022 às 10:32 | Atualizado em: 19/10/2022 às 11:15
O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) entregou um documento sigiloso à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no qual omite, mente e distorce informações sobre o desmatamento e a preservação ambiental no país.
O colunista do UOL Jamil Chade, que teve acesso às mais de mil páginas, diz que a peça é um esforço do governo de levar o país a ser aceito na organização com sede em Paris (França).
O documento não informou que Bolsonaro recebeu uma taxa de desmatamento de 7,5 mi km² e, no ano passado, a mesma explodiu para 13 mil km², ou seja, um crescimento de 73%. Neste ano, a taxa de desmatamento continuou crescendo e a tendência é piorar ainda mais.
Jamil Chade diz que o governo incluiu no texto o Fundo Amazônia como uma das medidas adotadas para provar que o Brasil cumpre com os requisitos da instituição.
Contudo, omitiu que o Fundo está bloqueado com recursos da ordem de R$ 3 bilhões. Países doadores como a Noruega e Alemanha não aceitaram o fim do conselho que fazia a gestão dos recursos.
De acordo com o colunista, entre as dezenas de ações listadas para provar que o Brasil atende às exigências internacionais, o governo citou a lei 12.187, de 2009, que criou a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas.
Mas não mencionou o fato de que a política tinha metas para 2020 que não foram atingidas pelo governo.
“A meta do Brasil era chegar em 2020 com redução de 36,1% a 39,8% as suas emissões. Em termos setoriais, a meta mais importante era a de reduzir a taxa anual de desmatamento na Amazônia em 80% em relação à média do período de 1996 a 2005. A média deste período é de 19.625 km². Ou seja, o desmatamento em 2020 deveria ser de no máximo 3.925 km². Mas, em 2020, o desmatamento na Amazônia foi de 10.851 km² (176% acima da meta). E em 2021 subiu para 13.038 km² (232% acima da meta)”, explicou.
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Fundo Amazônia
O governo também cita a existência do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima como uma ação exitosa na área.
Porém, escondeu a luta judicial movida por PSB, PSOL, Rede e PT no Supremo Tribunal Federal (STF) para restabelecer o mecanismo e vedar o contingenciamento de receitas que integram o Fundo.
As siglas alegaram que Fundo Clima ficou inoperante durante os anos de 2019 e 2020, deixando de destinar vultosos recursos para o enfrentamento das mudanças climáticas.
Em seu voto, o ministro Luís Roberto Barroso reforçou o “respeito ao direito constitucional ao meio ambiente saudável e o valor constitucional da proteção do clima, assim como o dever do país em cumprir com direitos e compromissos assumidos internacionalmente”.
Foto: Ibama