Há algo entre arma de Bolsonaro, assassino de Marielle e ladrão morto?
Conheça, antes da censura, detalhes de um caso escabroso que envolve personagens bem atuais no noticiário policial

Ferreira Gabriel
Publicado em: 27/09/2022 às 11:18 | Atualizado em: 27/09/2022 às 11:18
O roubo de uma moto e de uma pistola do presidente Jair Bolsonaro, em 1995, mobilizou uma grande parte da polícia do Rio. O crime e suas consequências simbolizam vários problemas da segurança pública no Brasil.
Além disso, essa história se cruza com a do sargento Ronnie Lessa, apontado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) como assassino da vereadora Marielle Franco, morta a tiros em 2018. Os detalhes estão contados no episódio 4 do podcast UOL Investiga: Polícia Bandida e o Clã Bolsonaro, que estreou na última sexta-feira (23).
Em 2018, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro falou do assalto numa entrevista para o “Roda Viva”, programa da TV Cultura.
“Eu fui assaltado, sim. Eu estava numa motocicleta, fui rendido. Os dois caras, um desceu e pegou por trás o registro. Dois dias depois, juntamente com o nono batalhão da Polícia Militar, nós recuperamos a arma e a motocicleta e, por coincidência, o dono da favela de Acari, onde foi pega, foi pego lá. Lá estava lá. Ele apareceu morto um tempo depois, rápido. Eu não matei ninguém, nem fui atrás de ninguém. Mas aconteceu”, afirmou.
Algumas testemunhas e jornais da época, porém, trazem detalhes não contados por Bolsonaro. Ele foi assaltado no dia 4 de julho de 1995 em Vila Isabel, zona norte do Rio. Bolsonaro, então deputado federal, foi rendido por dois criminosos e entregou, sem reagir, uma moto modelo XLX 350 e uma pistola Glock calibre 380.
Na sequência, mobilizou a Secretaria de Segurança Pública, que colocou cerca de 50 policiais civis e militares para tentar ajudá-lo a resgatar os pertences. No entanto, a operação acabou sem sucesso naquele dia.
A moto e a pistola de Bolsonaro só retornaram para sua casa porque um traficante em Acari tomou conhecimento do assalto e soube que os pertences do então deputado estavam lá em Acari. Quem conta essa história é o ativista de direitos humanos Wanderley Cunha, o “Deley de Acari”, que diz ter testemunhado todo o episódio.
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Deley também conta que, posteriormente, o coronel Alves (Comandante que atuou na operação do roubo da moto de Bolsonaro) relatou que os pertences de Bolsonaro foram devolvidos a ele por um cabo chamado Lessa.
“Vários jornais da época saíram que o capitão Bolsonaro teria pego a moto no pátio do 9º batalhão, em Rocha Miranda. Eu vi algumas matérias antigas de jornal nessa época. A informação que eu tenho é diferente dessa. É que o cabo Lessa teria levado a moto na casa do capitão Bolsonaro na Vila Isabel.”
Segundo o ativista, o cabo Lessa era Ronnie Lessa. De acordo com dados da Polícia Militar, Lessa era soldado do Bope em 1995, mas Deley afirma que o coronel Alves relatou assim a presença dele naquela época. “A informação dada por ele é que o cabo Lessa teria levado a moto, entregue a moto na casa de Bolsonaro na rua Torres Homem. O que contrasta com a informação que li no jornal de que o capitão Bolsonaro teria recuperado a moto, teria pego a moto no pátio do nono batalhão”, informou.
Bolsonaro e Ronnie Lessa
As vidas de Bolsonaro e Ronnie Lessa se cruzaram outras vezes. Os dois, porém, costumam dizer que mal se conhecem. Eles eram vizinhos no condomínio Vivendas da Barra, local onde o presidente morava até o fim de 2018, antes da posse na Presidência.
Numa entrevista para as jornalistas Marina Lang e Sofia Cerqueira, publicada na revista Veja, em março de 2022, Ronnie Lessa admitiu que teve ajuda de Bolsonaro durante um tratamento médico para colocar uma prótese, em 2009. Lessa perdeu uma perna após um atentado, quando ele ainda estava na polícia.
Ele disse ter sido atendido pela ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação), da qual Bolsonaro era patrono.
“A ABBR tem um convênio não é com o Ronnie Lessa, com o Jair Bolsonaro, não. É com a polícia, tanto com a Polícia Civil como a Polícia Militar. Todos têm que ir pra lá. E o Bolsonaro por si só, como é palanque para ele, é uma questão. Ele gosta de ajudar a polícia porque na verdade é quem botou ele no poder. Então, se ele sabe de uma pessoa, ele vai interferir. Mas, na verdade, ele não estava ajudando o Ronnie, ele estava ajudando um policial que perdeu a perna”, afirmou Lessa.
Leia mais na coluna de Juliana Dal Piva no UOL
Foto: Redes Sociais/PMRJ