Um rei ambientalista
Hoje com 73 anos, Charles tem se posicionado como defensor do meio ambiente desde a juventude e construiuforte atuação nesse segmento

Mariane Veiga, por Marcellus Campêlo
Publicado em: 15/09/2022 às 13:09 | Atualizado em: 15/09/2022 às 13:24
Desde a semana passada (e pelos próximos dias) o tema dominante no noticiário mundial é a morte da rainha Elizabeth II e a posse de Charles III. Por conta da simpatia do novo rei britânico pelas causas ambientais, o assunto também está na ordem do dia.
Hoje com 73 anos, Charles tem se posicionado como defensor do meio ambiente desde a juventude e construiu uma atuação forte nesse segmento, com ações que reforçam essa sua disposição.
Como rei, não se sabe se continuará a expressar sua posição nessa área, já que as normas constitucionais o impedem, como soberano, de se posicionar sobre questões políticas e socioeconômicas. De qualquer forma, a expectativa é que venha a estimular boas iniciativas nesse campo e possa se tornar – talvez não pelo que irá expressar, mas pelo que faz no dia a dia – um porta-voz da causa ecológica.
Charles tem uma longa história de ações relacionadas à proteção ao meio ambiente, embora, é claro, há quem considere que ele poderia fazer muito mais. Há anos ele é engajado na luta contra as mudanças climáticas, pratica o cultivo orgânico na sua fazenda, no Ducado de Cornualha, e é adepto do uso de energias renováveis, nas casas e escritórios que possui. O carro que tem há mais de 50 anos, o DB5, da Aston Martin, é abastecido por biocombustível feito a partir do vinho e do queijo. Algo bem inusitado, inclusive.
O seu primeiro discurso abordando questões sobre o meio ambiente foi proferido quando tinha apenas 22 anos, em 1970, durante uma visita oficial à República de Palau, no Oceano Pacífico. Na ocasião, ele alertava para os perigos da proliferação de plásticos e os efeitos nocivos ao planeta.
A partir daí, várias iniciativas foram adotadas por Charles, construindo ao longo dos anos uma posição de defesa ao meio ambiente. Em 1990, por exemplo, ele lançou a etiqueta Duchy Originals, para promover a agricultura sem pesticidas. Em 2007, criou o Prince’s Rainforest Project, para discutir e encontrar soluções para a destruição das florestas tropicais, em conjunto com governos, empresários e associações. Em 2019, fundou a Sustainable Markets Initiative (SMI), entidade que reúne lideranças do setor público e privado, para trabalhar pela descarbonização da economia.
Em 2021, quando o Reino Unido sediou a cúpula do clima COP26, na Escócia, ele fez o discurso de abertura, durante o qual pediu aos líderes mundiais que redobrem seus esforços para combater o aquecimento global. Charles também lançou, no ano passado, o movimento Terra Carta, que reúne líderes e CEOs de grandes organizações, com o objetivo de priorizar a sustentabilidade nos negócios. Criou, ainda, o prêmio Earthshot, que reconhece projetos com soluções para a crise climática.
Por toda essa trajetória que construiu, já recebeu diversos prêmios internacionais, incluindo o Global Environmental Citizen da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Charles levou pelo mundo afora o discurso da defesa do meio ambiente e, nessa esteira, da preservação da Amazônia, assunto que destacou nas quatro passagens que fez pelo Brasil. Em todas essas ocasiões, em 1978, 1991, 2002 e 2009, ele fez questão de incluir no roteiro estados da região.
Em 1978, Charles esteve no Amazonas e Pará. Em 1991, foi à cidade de Parauapebas, no sudeste do Pará. Em 2002, foi a Palmas, no Tocantins. Em 2009, visitou o Amazonas e Pará.
As viagens da realeza pelo mundo, mesmo que em muitas vezes tenham o caráter nobre de difundir a tese da defesa do meio ambiente, recebem também críticas dos ambientalistas. O impasse é com relação aos deslocamentos de avião e a emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera que isso provoca.
As críticas, a lupa apontada para identificar contradições nos discursos proferidos, tudo isso tende a ganhar corpo agora, nessa nova fase, em que Charles III assume o trono do Reino Unido.
Espera-se, entretanto, que não sejam inibidores para que possa avançar nessa linha, atraindo a atenção dos líderes mundiais para o tema, ajudando a construir ações concretas em defesa da Amazônia, do meio ambiente e do planeta.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE) do Governo do Amazonas.
Foto: Getty Images