Eventos extremos são cada vez mais intensos e frequentes

A sensação é de que fica mais quente a cada ano e o termômetro aponta neste caminho

Mariane Veiga, por Marcellus Campelo

Publicado em: 27/07/2022 às 16:28 | Atualizado em: 27/07/2022 às 19:13

A onda de calor que varre a Europa, neste mês de julho, preocupa todo mundo e sopra forte também por aqui, com o verão amazônico cada vez mais severo, trazendo preocupação com as consequências do período de seca para a população ribeirinha, em especial.

A sensação é de que fica mais quente a cada ano e o termômetro aponta neste caminho. No dia 17 de julho, Manaus registrou o terceiro dia mais quente do ano, com 34,6ºC, um verdadeiro caldeirão, e o chamado verão amazônico mal começou. De acordo com os meteorologistas, agosto deverá ser o mês mais quente do ano.

 A Europa também está em ebulição. No dia 20, a temperatura em Londres, por exemplo, atingiu a marca recorde de 40,3ºC. Foi o dia com mais chamados recebidos pelos bombeiros, desde a Segunda Guerra Mundial. E a semana toda foi marcada por altas temperaturas, sempre acima de 40ºC.

Os efeitos climáticos estão por toda parte. No início do ano, o sul do Brasil registrou recordes de calor. Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, chegou a 42,9ºC, a maior temperatura máxima já observada no estado.

No Amazonas, 26 municípios entraram em emergência e 31 em situação de atenção, por conta da cheia dos rios este ano. O período chuvoso, que normalmente encerra em maio, se prolongou até junho e de forma intensa, provocando estragos em várias cidades, que receberam suporte e apoio do Governo do Estado.

Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco também enfrentaram situações extremas relacionadas ao clima, este ano. A forte enchente causou estragos em especial nas regiões serranas, com registro de vítimas fatais.

Especialistas relacionam essas ocorrências extremas à mudança climática, provocada basicamente pela ação do homem, com a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Não estamos falando de climas quentes, secos, frios ou de chuvas. Mas de ocorrências extremas, que se repetem com mais intensidade e em menor frequência, aumentando o risco de desastres naturais.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em abril, chama a atenção para o fato de que o planeta caminha numa direção que nos levará a enfrentar aumento de temperatura sem precedentes no mundo, tempestades aterrorizantes e escassez generalizada de água. Para deter o que parece ser um destino traçado, será preciso limitar o aquecimento da Terra em até 1,5ºC. Um desafio que tem tido pouco sucesso.

Já estamos em aproximadamente 1,2ºC de aquecimento. Caso a atual taxa de emissão de gases de efeito estufa não seja contida, os efeitos serão desastrosos para todo o planeta. As consequências não são somente no aumento dos níveis de calor, mas na ocorrência de eventos climáticos extremos, que incluem ondas de frio, secas e enchentes cada vez mais frequentes e mais severas.

Não é preciso olhar para muito longe, para enxergar a situação de emergência climática em que vivemos. E isso não é de hoje, já vem se arrastando e se aprofundando nos últimos 50 anos, em todo o mundo. Nessa passada em que estamos indo, as situações extremas tendem a ser rotineiras.

Muita coisa precisa ser feita. Além das medidas relacionadas diretamente à mitigação das emissões de gases de efeito estufa, é preciso também repensar o planejamento urbano das cidades.  Tirar as pessoas das áreas de risco, como já vem sendo feito no Amazonas, pelo Governo do Estado, nos perímetros de intervenção do Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior (Prosamin+), reassentando as famílias em locais seguros e evitando tragédias futuras.

Cerca de 15,8 mil famílias já saíram dessas áreas de risco de alagação, pela ação do Prosamin, programa que é desenvolvido pelo Governo do Estado, através da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mais 2.580 sairão na nova etapa do programa, que já começou a ser executada, e que beneficiará as comunidades Manaus 2000, no Japiim, zona sul, e da Sharp, zona leste, que enfrenta problemas com alagação há mais de 20 anos.

Outra ação de grande impacto está sendo realizada no âmbito da UGPE, nesse caso com benefícios diretos ao meio ambiente, é a implantação do Programa Ilumina+ Amazonas. O programa está substituindo, nas áreas urbanas do interior do estado, as lâmpadas de mercúrio e vapor de sódio por LED, que iluminam mais, são eficientes e sustentáveis, com reduzido impacto ao meio ambiente.

Serão 59 mil pontos de iluminação instalados até o final do ano, num total de 27 municípios contemplados, chegando a 28 com Maués, onde o Governo do Amazonas já havia implantado o sistema.

Em apenas dois meses do programa, 6 cidades já estão com iluminação 100% de LED e em mais 6 o serviço está em execução. Até o momento, já foram instalados 18,5 mil pontos de iluminação. Os serviços já foram concluídos em Tefé, Parintins, Barreirinha, Careiro da Várzea, Boa Vista do Ramos e Nhamundá. O trabalho segue em Itacoatiara, Rio Preto da Eva, Urucurituba, Humaitá, Autazes e São Sebastião do Uatumã. Essa ação trará resultados impactantes em termos de benefícios ao meio ambiente.

Esses, portanto, são apenas alguns exemplos dentro da área de atuação da UGPE. A agenda ambiental, como sabemos, perpassa vários segmentos de atuação e precisa se manter em pauta sempre, avaliando o que já foi feito e redefinindo novas metas. O meio ambiente não é estático, está mudando o tempo todo e é preciso estar atento aos seus movimentos, preferencialmente sem a paixão exacerbada dos que defendem as teorias apocalípticas, nem tampouco a indiferença dos negacionistas. A ciência deve ser sempre o norte para as políticas públicas nessa área.

O autor é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).

Foto: Ronaldo Siqueira/exclusiva para o BNC Amazonas