Rede Wayuri é premiada em Haia por combate à desinformação
Comunicadores indígenas do rio Negro receberam o Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 03/06/2022 às 10:44 | Atualizado em: 03/06/2022 às 10:44
A Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas recebeu o Prêmio Estado de Direito 2022, do World Justice Project (WJP), na cidade de Haia, na Holanda.
O grupo de comunicação atua na região do rio Negro, no estado do Amazonas.
A premiação ocorreu durante o Fórum Mundial de Justiça 2022. A rede foi reconhecida pela inovação e o combate à desinformação na Amazônia brasileira.
Conforme divulgado pela WJP, a Rede Wayuri foi selecionada em uma busca global. “Eles construíram conscientização e engajamento local em questões como a pandemia, a violência contra as mulheres e uma série de ameaças ambientais”, disse a organização.
Marivelton Barroso, do povo baré e presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), recebeu a premiação pessoalmente em nome dos comunicadores.
No discurso, a liderança indígena do alto rio Negro reforçou que a atuação da Rede Wayuri (trabalho coletivo na língua indígena nheengatu) ganha ainda mais relevância no atual cenário político do Brasil, com os povos indígenas convivendo diariamente com ameaças aos seus direitos, inclusive com ataques aos territórios.
“A Rede Wayuri exerce um papel fundamental através de comunicadores indígenas que fortalecem as comunidades ao distribuírem informações verdadeiras que fazem a contranarrativa às notícias falsas que promovem o medo e colaboram para o aumento da violência e da destruição na Amazônia”, afirmou.

Fake news na pandemia
Segundo o presidente da Foirn, o monitoramento das mentiras (fake news na internet), feito pela rede de comunicadores ajuda a alertar a população indígena sobre como os seus direitos estão ameaçados.
“Além de levar informação, acreditamos que o trabalho da Rede Wayuri também traz educação, informação e formação política. Isso fortalece nossas comunidades e nossas ações em prol do desenvolvimento sustentável no rio Negro”, disse.
No contexto político e social ameaçador, Marivelton falou do enfrentamento à pandemia de covid-19 na região.
“A proliferação de notícias falsas colocou muitas vidas em risco. Os comunicadores da Rede Wayuri tiveram a coragem de atuar durante toda a pandemia produzindo informações verdadeiras e conscientizando os indígenas sobre os perigos da doença”.
O presidente da Foirn ressaltou ainda a importância das mulheres indígenas na comunicação, mencionando as comunicadoras Cláudia Ferraz, do povo wanano, Edneia Teles, do arapaso, Janete Alves, do desana, e Elisângela da Silva, do povo Baré, pela contribuição aos trabalhos da Rede Wayuri.
Rede Wayuri
Atualmente, a Rede Wayuri, ligada à Foirn, com parceria e apoio do Instituto Socioambiental (ISA), Indígenas foi criada em 2017.
É composta por cerca de 55 comunicadores de 16 etnias. Cinco deles trabalham a partir do município de São Gabriel da Cachoeira (AM), realizando semanalmente o programa de rádio Papo da Maloca, que vai ao ar na FM 92,7, de alcance local.
A rede atua em um território indígena onde estão localizadas cerca de 750 comunidades de povos de 23 etnias nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos.
Em São Gabriel da Cachoeira – considerada a cidade mais indígena do Brasil –, além do português há quatro línguas indígenas co-oficiais: nheengatu, baré, baniwa e yanomami.
Prêmio WJP
O WJP (World Justice Project) é uma organização independente e multidisciplinar que trabalha para gerar conhecimento e conscientização sobre a importância do devido processo legal no mundo.
O prêmio reconhece conquistas de indivíduos e organizações para fortalecer o estado de direito de forma exemplar.
Já receberam a premiação o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter (2017) e a advogada iraniana de direitos humanos e Nobel da Paz, Shirin Ebadi (2013).
Participaram do Fórum de Justiça 2022 líderes como a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet; vice-presidente para valores e transparência na Comissão Europeia, Vera Jourová; o presidente da Microsoft, Brad Smith, entre outros.
Com informações do ISA.
Fotos: divulgação/ISA