ZFM: modelo reconhecidamente exitoso de desenvolvimento sustentável
A atividade industrial foi fundamental para a redução de 85% a 86% do desmatamento em Manaus

Diamantino Junior, Marcellus Campêlo
Publicado em: 27/04/2022 às 12:00 | Atualizado em: 27/04/2022 às 12:00
Televisores, motocicletas, notebooks, smartphones, condicionadores de ar e outros tantos produtos que fazem parte do dia a dia dos brasileiros são produzidos na Zona Franca de Manaus (ZFM), modelo que abriga um dos principais parques industriais do país.
Criada em 1967, a ZFM tem atuação nos segmentos comercial, agropecuário e industrial, sendo este último a sua principal base de sustentação. No Polo Industrial de Manaus (PIM) estão instaladas aproximadamente 500 empresas, que geram mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos, com forte atuação nos segmentos eletroeletrônico, bens de informática e duas rodas. Em 2021, o PIM faturou R$ 158,62 bilhões, marca histórica, representando um crescimento de 31,9% em relação ao ano anterior.
A ZFM está instalada na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, e é, reconhecidamente, um modelo exitoso de desenvolvimento sustentável. Estudos indicam que a geração de empregos na indústria, que se expandiu por conta dos incentivos fiscais concedidos às empresas que aqui se instalam – uma espécie de contrapartida, já que enfrentam grandes problemas de logística por conta da extensão geográfica da região – tem sido fundamental para manter preservadas mais de 90% da floresta amazônica. A exuberância do Polo Industrial foi fator definidor para que o homem da região não precisasse buscar, na exploração dos recursos naturais, a sua sustentação.
Estudos que embasam essa tese já foram realizados pela própria Suframa, pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e pela Fundação Getúlio Vargas, dentre outras instituições, mostrando a relação direta da manutenção do modelo com a preservação da floresta, ao longo das últimas décadas.
Cito aqui, como referência clara nesse sentido, o livro “Impacto virtuoso do Polo Industrial de Manaus sobre a proteção da floresta amazônica: discurso ou fato?”, publicado por pesquisadores das universidades federais dos estados do Amazonas e Pará, do Instituto Piatam e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com resultados avaliados por cientistas dos Estados Unidos, Europa e América Latina.
Os pesquisadores analisaram o impacto do Polo Industrial na relação com a proteção da floresta, confrontando com os dados de desmatamento no estado.
O estudo mostrou a importância do PIM, por desenvolver atividades econômicas com ausência ou baixa utilização de recursos florestais.
No período de 2000 a 2006, conforme a pesquisa, contribuiu para reduzir de 70% a 77% a pressão sobre os recursos ambientais, evitando, assim, o desmatamento da floresta amazônica.
A atividade industrial foi fundamental para a redução de 85% a 86% do desmatamento em Manaus.
Manter a floresta amazônica em pé não é uma preocupação somente dos amazonenses e dos homens da região. É uma preocupação do planeta e suscita discursos em todo o mundo. Por isso mesmo, a necessidade de um olhar atento a esse modelo que mantém pulsante a economia do estado e que contribui significativamente para o PIB nacional.
Manter o modelo ZFM e garantir os incentivos às empresas locais não significa acomodação e nem tão pouco excluem a necessidade de se discutir e encontrar outras alternativas para diversificar e impulsionar a economia local.
O Amazonas é um estado com muitas potencialidades a serem exploradas. O governador Wilson Lima tem chamado a atenção, por exemplo, para as possibilidades que podem ser abertas com o turismo, o gás natural, a biotecnologia e tantas outras opções visando à criação de novas bases econômicas sustentáveis.
Aliado a isso e de maneira complementar, é preciso fortalecer o PIM, de forma a atrair mais investimentos para a região, gerando empregos, renda e desenvolvimento.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).