Estão matando os jovens sob a indiferença dos governantes
Nem prefeitura, nem governo do estado e tampouco governo federal têm política para atender a massa de 47 milhões de jovens na faixa de 15 a 29 anos

Mariane Veiga, por Lúcio Carril
Publicado em: 05/04/2022 às 12:36 | Atualizado em: 05/04/2022 às 12:36
Hoje, ao sair para caminhar, o vizinho me chama e pergunta: sabe o Andrei, o garoto que sempre te ajuda, que mora ali naquela casa? Mataram ele ontem à noite. Só tinha 18 anos. Foi morto num lanche na outra rua.
Segui minha caminhada. Os olhos ficaram molhados. Era um bom garoto. Sempre gentil, prestativo, cheio de vida. Na sexta-feira me pediu 10 reais. Dei 15. Brinquei: sei que é para uma boa causa. Há duas semanas veio tapar umas goteiras aqui no telhado de casa. Estava sempre procurando um trabalho, para ganhar uns trocados.
O Andrei virou estatística num país sem nenhum programa para a juventude. Nem prefeitura, nem governo do estado e tampouco governo federal têm política para atender a massa de 47 milhões de jovens na faixa de 15 a 29 anos, que representam 23% da população brasileira, segundo o IBGE.
A cada 17 minutos um jovem é morto no Brasil. No período de 10 anos (2009-2019), 333.330 pessoas com idades entre 15 e 29 anos foram assassinadas no país, conforme o Atlas da Violência 2021.
Para agravar a situação, o desgoverno Bolsonaro vem desarticulando todos os programas de inclusão dos jovens na universidade e está tocando uma reforma do ensino médio que desmotiva o acesso ao conhecimento e à continuação dos estudos. É um desastre que afetará as gerações de hoje e de amanhã, comprometendo o futuro dos brasileiros e o desenvolvimento do país.
É preciso retomar o Brasil e criar uma política para a juventude, que acabe com esse genocídio e abra caminho para todas as possibilidades de um crescimento saudável dos nossos garotos e garotas, garantindo educação plena, programas específicos de atenção à saúde, esporte, lazer e cultura.
Não dá mais para chorar o assassinato dos nossos filhos. Sim, nossos filhos, porque todos e todas têm família, pai, mãe, irmãos, irmãs. São filhos que estão morrendo nas mãos do tráfico e do crime organizado. É o caminho do desespero e da falta de perspectiva com o futuro que estão encurtando a vida de meninos e meninas que nem concluíram sua vida escolar.
Chega de genocídio. Deixem nossos jovens crescerem, se tornarem homens e mulheres de bem, pais e mães de filhos que viverão num país que proteja a todos e garanta sua felicidade.
O autor é sociólogo.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil