Deputada quer sustar decreto de Bolsonaro do garimpo ‘artesanal’

A líder do partido na Câmara dos Deputados, Talíria Petrone (RJ), afirmou que Bolsonaro usou nome mais brando para se referir ao garimpo ilegal

Deputada quer sustar decreto de Bolsonaro do garimpo 'artesanal'

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 14/02/2022 às 21:45 | Atualizado em: 14/02/2022 às 21:55

A deputada federal do Psol Sâmia Bomfim (SP) anunciou, nesta segunda-feira (14), que vai apresentar projeto para sustar os efeitos do decreto (10.966) do presidente Jair Bolsonaro que instituiu o “Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Mineração Artesanal e em Pequena Escala – Pró-Mape”.

De acordo com o Planalto, o objetivo é “propor políticas públicas e estimular o desenvolvimento da mineração artesanal e em pequena escala, com vistas ao desenvolvimento sustentável regional e nacional”.

A deputada, contudo, vê outras finalidades no decreto. “As coisas precisam ser chamadas pelo nome: não existe ‘mineração artesanal’, o que o governo Bolsonaro quer é, através de decreto, seguir liberando geral o garimpo na Amazônia. Vamos apresentar projeto para reverter mais esse absurdo!”, anunciou.

Leia mais

PF divulga balanço de operações contra garimpo ilegal no rio Madeira

“Mais um avanço de Bolsonaro sobre a Amazônia: programa do governo de ‘mineração artesanal’ pretende legalizar milhares de garimpeiros ilegais, ameaçando a preservação ambiental e os povos indígenas”, criticou o deputado David Miranda (RJ), colega de partido de Sâmia.

A líder do partido na Câmara, deputada Talíria Petrone (RJ), afirmou que Bolsonaro usou nome mais brando para se referir ao garimpo ilegal. Ela ainda denominou o presidente de “genocida e ecocida”.

“É esse o decreto que Bolsonaro editou agora. Não basta a crise climática que atravessamos, o presidente quer aprofundar ainda mais a destruição!”, protestou a líder.

Em nota nas redes sociais, o Psol diz que garimpo ilegal virou “mineração artesanal” em novos decretos do governo Bolsonaro. “É impressionante o contorcionismo desse governo para beneficiar criminosos. Lamentável!”, diz.

O coordenador da Frente Ambientalista do Congresso, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) diz que o decreto estimula uma atividade clandestina, predatória e ilegal. “A mineração artesanal é o novo garimpo ilegal, um passaporte para a destruição”, disse.

“Então agora desmatamento ilegal vai passar a ser ‘supressão artesanal de vegetação nativa’ e tráfico de drogas vira ‘comércio informal artesanal de entorpecentes’. Tucanaram a bandidagem!”, ironizou o deputado ambientalista Nilto Tatto (PT-SP).

Observatório

O site Observatório da Mineração diz que o decreto, embora bastante vago e genérico, utilizando termos como ‘abordagem multidisciplinar’, ‘integração’ e ‘visão sistêmica’, abre brechas para a ampliação do garimpo na Amazônia, já extremamente problemático hoje.

“A área minerada por garimpo saltou 495% dentro de terras indígenas apenas nos últimos dez anos, segundo o MapBiomas. Nas unidades de conservação, o incremento foi de 301% no mesmo período”, lembrou.

O Observatório destacou ainda que metade do ouro exportado pelo Brasil nos últimos cinco anos, 229 toneladas, tem indícios de legalidade, de acordo com estudo recém-lançado do Instituto Escolhas.

“Dos 11 mil hectares abertos na Amazônia para mineração entre janeiro e setembro de 2021, 73% incidiram dentro de áreas protegidas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)”.

Foto: Nilson Bastian /Câmara dos Deputados