Projetos urbanísticos precisam voltar o olhar para as crianças
A preocupação com os espaços públicos e a forma de ocupação pela população dizem muito das cidades e da qualidade de vida aos seus habitantes

Ednilson Maciel, por Marcellus Campelo*
Publicado em: 02/02/2022 às 07:00 | Atualizado em: 02/02/2022 às 11:56
São cada vez mais raras, nas grandes cidades, as cenas das crianças brincando nas ruas, nas calçadas, subindo em árvores, andando de bicicleta e correndo em parques ou praças. As explicações são as mais variadas. Podemos dizer que os tempos mudaram e os novos hábitos estão mais para os jogos eletrônicos; que os espaços públicos nem sempre são ambientes seguros onde possam brincar tranquilamente; e que os pais estão cada vez mais atarefados, sem tempo para acompanhá-las nas atividades ao ar livre.
É claro que tudo isso pode influenciar, mas é preciso admitir que, hoje, há escassez de áreas verdes e de projetos urbanísticos que levem em conta o olhar das crianças e as necessidades de espaço que possuem. São poucos os bairros que contemplam um aparato com essa finalidade e que atraiam os pequenos para se divertir em grupo, com os vizinhos, amigos e familiares.
Em Manaus, é visível o esforço da Prefeitura em recuperar praças e espaços públicos que encontravam-se sem os devidos cuidados de manutenção e que, agora, ganham um novo sentido para a cidade.
A preocupação com os espaços públicos e a forma de ocupação pela população dizem muito das cidades e da qualidade de vida que proporcionam aos seus habitantes. Além disso, estimulam hábitos desde a infância que serão fundamentais para a vida adulta, no desenvolvimento sadio, na visão de mundo e até na assimilação do conceito de sustentabilidade.
É importante dar às crianças opções de lazer e em espaços com áreas verdes, parques, ciclovias, calçadas. Promover atividades que estimulem a separação dos resíduos para reciclagem, por exemplo, a compreensão da sinalização, do respeito ao pedestre e do convívio em harmonia com a vizinhança. Além disso, garantir acesso fácil e seguro ao transporte coletivo nas imediações, e oferecer atividades lúdicas, para o desenvolvimento da criatividade infantil.
Esses elementos todos não são fáceis de incluir nos projetos urbanísticos, mas são necessários, um resgate importante, antes que a única alternativa de entretenimento seja mesmo colocar as crianças na frente das TVs e dos celulares.
Pensando dessa forma, trouxemos para o Programa Social e Ambiental de Manaus e Interior (Prosamin+), por uma orientação direta do governador Wilson Lima, a preocupação com a ampliação dos espaços públicos para uso das crianças e das famílias, das áreas verdes, dos equipamentos de lazer e atividades culturais.
O Prosamin+ compreende 445.596,31 m², em dois trechos projetados ao longo do Igarapé do 40, entre a avenida Rodrigo Otávio, na área conhecida como Manaus 2000, no bairro Japiim, zona sul, e a comunidade da Sharp, no bairro Armando Mendes, na zona leste. O programa reserva 39% dessa área para reflorestamento e para paisagismo, ampliando os espaços verdes e seguindo essa orientação do governador Wilson Lima, na concepção do projeto.
Prevê, também, ciclovias, passeios e calçadões, reestruturação viária nas áreas de abrangência, construção de conjuntos habitacionais, implantação de dois parques e sete praças. O projeto urbanístico delimita os espaços para transeuntes e para veículos motorizados.
Com o traçado desenvolvido, foi possível implantar uma diversidade de equipamentos e mobiliários urbanos, que permitirão uma variedade de atividades ao ar livre, de esporte, lazer e bem-estar. Dentre eles, estão contempladas a construção de quadras poliesportivas, academia de ginástica ao ar livre, anfiteatro com arquibancada, espaços para artes itinerantes e murais para exploração do grafite.
O projeto também inclui uma praça de alimentação com quiosques e um espaço destinado à montagem temporária de barracas ou carrinhos e diversos brinquedos de usos infantil e infanto-juvenil. Os playgrounds, com área total de 1.495 m², estarão subdivididos em toda a extensão do Prosamin+, com mesas de piquenique, de jogos (da velha, trilhas, xadrez) e de ping pong, gangorras, dinotunel, balanços, escorregadores e área para amarelinha em piso emborrachado.
As áreas marginais ao Igarapé do 40 serão dotadas de um circuito de ciclovia de 4.556,40 m², contendo ampla rede de passeios livres de obstáculos, atento aos preceitos de acessibilidade universal.
Na área cultural, vamos fechar parcerias para a oferta de várias atividades. A principal delas é com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), que já tem atuação conjunta com a UGPE nos parques construídos em outras fases do programa. Ao longo dos anos, o Prosamin constituiu um leque de parceiros de sustentabilidade e continua aberto às empresas e instituições dispostas a atuar nas mais diversas áreas, sejam elas educacionais, culturais e socioambientais.
Entendemos que é preciso, no projeto urbanístico do Prosamin+, priorizar o bem-estar e qualidade de vida dos moradores do entorno. Dar condições para as famílias de oferecer às crianças e adolescentes espaço adequado para se desenvolverem de forma saudável, com opções de divertimento e lazer ao ar livre e de compartilhamento de experiências.
Foto: Altemar Alcântara/Semcom
*O autor é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de coordenador executivo da Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), órgão que gerencia as obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus e Interior (Prosamin).