Irmão de Bolsonaro garante recursos para prefeito que assessora
Além de pedir verbas federais para Miracatu, cidade onde é chefe de gabinete da prefeitura, Renato também atua como um intermediário informal dos interesses da região

Diamantino Junior
Publicado em: 13/01/2022 às 15:37 | Atualizado em: 13/01/2022 às 15:37
O capitão da reserva Renato Antônio Bolsonaro se tornou uma figura ilustre na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, região Sul do estado de São Paulo, desde que o irmão, Jair Bolsonaro, assumiu a Presidência da República.
Além de pedir verbas federais para Miracatu, cidade onde é chefe de gabinete da prefeitura, Renato também atua como um intermediário informal dos interesses da região junto ao Palácio do Planalto.
Um dos pleitos mais recentes foi a liberação da circulação de cruzeiros marítimos, que estava suspensa por causa da pandemia e costuma movimentar a economia da região.
Para resolver a questão, entraram em cena Renato e seu amigo de longa data, o assessor especial da Presidência Mosart Aragão. A dupla foi tratar do pleito diretamente com o ministro do Turismo, Gilson Machado, segundo descreveu o próprio Aragão em entrevista a uma rádio de Jaboticabal, no interior de São Paulo, em novembro do ano passado.
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“Tivemos aqui recentemente por intermediação do Renato, que mora na região, e levou esse pleito da liberação dos cruzeiros marítimos, que estavam parados por conta da pandemia. E a gente levou ao ministro Gilson Machado, que fez a viabilização com o fim dessa pandemia e vacinação da maior parte da população. E, graças a Deus, foi liberado”, disse Aragão, acrescentando que a ação geraria mais de 30 mil empregos no país.
A temporada de cruzeiros marítimos foi retomada em novembro de 2021, mas durou pouco. No início deste mês, a própria Associação Brasileira de Cruzeiros (Clia Brasil) decidiu suspender a operação após a explosão de casos de covid-19 nas embarcações e a recomendação da Anvisa.
Acesso fácil
Na entrevista, o assessor presidencial prosseguiu dizendo que Renato é “totalmente acessível” e quem não consegue contatar o presidente costuma ir atrás dele.
“As pessoas geralmente procuram o irmão do presidente porque não têm acesso ao presidente.”
À mesma rádio, Renato Bolsonaro explicou o seu papel:
“Nessa função que ele (Bolsonaro) assumiu, eu me coloquei no meu local. Mas deixei o acesso a mim fácil. E as pessoas realmente me procuram, com sugestões, ideias, comentários, às vezes mandando uma lembrança, mandando um mimo. E eu faço essa parte. Direciono ao presidente.”
Na ocasião, Renato e Mosart haviam ido a Jaboticabal encontrar empresários e políticos locais. Lá, receberam o pedido de convencer o presidente a alçar a cidade ao status de “capital nacional do amendoim” .
Em publicações nas redes sociais, o ministro do Turismo não esconde a sua proximidade com o irmão do presidente, a quem chama de “meu amigo”.
“É quem leva a gente à região do Vale do Ribeira, que vai fazer a região despontar. (…) Eu queria que o Renato falasse um pouquinho porque ele veio aqui em Brasília buscar recursos, capitanear recursos”, relatou o ministro em uma publicação de novembro de 2019.
Em uma gravação sobre a liberação dos cruzeiros, em dezembro de 2021, Machado não falou da participação de Renato, mas destacou o “papel central” de Aragão.
“Ficou pedindo celeridade, velocidade, porque o navio não pode esperar, os navios empregam mais de 30 mil pessoas. As coisas têm que acontecer, como aconteceram”, descreveu ele, lembrando que o próprio presidente ficou “até duas da manhã no sábado” tentando resolver a liberação.
Gilson Machado, aliás, é um dos ministros que mais visitou Miracatu durante a gestão Bolsonaro — pelo menos três vezes.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também já visitaram o município, além do próprio presidente — a mãe dele mora lá.
Quando os ministros não vão à cidade, Renato leva os prefeitos e os vereadores à Brasília. No fim de novembro, Bolsonaro abriu um espaço na agenda para receber no Planalto uma comitiva com o prefeito de Miracatu, Vinicius Brandão (PL), o irmão Renato e vereadores aliados para ouvir os pleitos da cidade de 20 mil habitantes.
Perguntado se havia recebido a mesma atenção do presidente, o ex-prefeito de Miracatu Ezigomar Pessoa (PSDB) respondeu que não:
“Eu nunca tive (convite para ir a Brasília). E que eu saiba, nenhum outro prefeito teve antes. A atenção agora é diferente por causa do Renato.”
A “intermediação informal” do irmão do presidente tem surtido efeito. No fim de 2021, a pasta do Turismo empenhou (reservou para gasto) cerca de R$ 6 milhões à cidade no chamado orçamento secreto.
O dinheiro servirá para a construção de um centro de eventos e um museu. Procurado, o ministro não quis se pronunciar.
Na mesma época, outros R$ 30 milhões de verba federal foram empenhados à cidade pelos ministérios da Cidadania, Saúde e Agricultura.
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Foto: reprodução