Meus desejos e pedidos para 2022

Como sou amazonense, meu primeiro pedido é para que os hospitais da cidade de Manaus nunca mais fiquem sem oxigênio

Mariane Veiga, por Aldenor Ferreira

Publicado em: 08/01/2022 às 10:12 | Atualizado em: 08/01/2022 às 10:12

Faz parte da cultura popular, a cada final de ano, a realização de pedidos, simpatias, promessas, orações e assim por diante. Pegando carona nessa tradição, nesta primeira semana do ano, compartilho, aqui, alguns pedidos e desejos para 2022.

Como sou amazonense, meu primeiro pedido é para que os hospitais da cidade de Manaus nunca mais fiquem sem oxigênio. Se nos recordarmos bem, foi exatamente no primeiro mês do ano de 2021 que ocorreu o macabro episódio de mortes por asfixia, devido à falta de oxigênio, em nossa capital.

O segundo pedido é para que a sociedade brasileira, parte significativa dela pelos menos, retorne ao mundo civilizado, que abandone de uma vez por todas esse tour pelo século XV e retorne urgentemente ao século XXI.

Uma coisa é certa, não é mais possível uma sociedade regida por valores morais e religiosos oriundos da Idade Média.

Nesse sentido, para o bem de todos(as), desejo que a ciência volte a ser o guia de todas as ações, quer sejam pertencentes à esfera pública ou à esfera privada, quer sejam ações políticas, econômicas, sanitárias, dentre outras.

Prosseguindo, clamo que as igrejas evangélicas voltem a fazer o que livro sagrado delas manda, ou seja, que apenas preguem o evangelho e cuidem dos necessitados, dos órfãos e das viúvas. Se parte desse segmento voltasse a ser apenas instituição religiosa e abandonasse o mundo do estelionato, do charlatanismo, das facções criminosas, a sociedade brasileira teria um ganho enorme.

Também rezo/oro por uma questão que tem atrapalhado bastante a vida na República. Na verdade, paradoxalmente, uma questão que tem ajudado a solapar as bases do Estado Democrático de Direito: a atuação do judiciário. De acordo com a Constituição Federal de 1988, o poder judiciário não legisla, apenas aplica a legislação, sendo, portanto, o seu guardião.

Porém, no geral, o judiciário brasileiro virou um mix de partido político, facção criminosa e série teen americana, com juízes, procuradores, desembargadores e demais membros desse poder, ávidos por holofotes e câmeras fotográficas, fato que deixaria qualquer ator/atriz hollywoodiano(a) com inveja.

Indo mais além, meu desejo é que o Brasil volte a investir em educação como deve ser, pois, não há soberania nacional sem ciência e tecnologia próprias. Não há povo livre e emancipado sem educação de qualidade.

Todavia, na contramão da maioria dos países – que mantiveram ou mesmo aumentaram os recursos financeiros destinados à pesquisa científica no período pandêmico –, o Brasil reduziu drasticamente as verbas para o setor, inviabilizando, por exemplo, programas de pós-graduação e, consequentemente, a pesquisa no âmbito das universidades e demais centros de pesquisa.

Certamente, vivemos dias difíceis.

Todavia, a crise sanitária, econômica, social e política experienciada em nosso país é acompanhada por uma crise da razão, com alguns segmentos sociais buscando, diuturnamente, pôr em xeque, por exemplo, a ciência e toda a sua secular produção. A ciência, esta velha senhora, de uma hora para outra, passou a ser inimiga desses setores.

Ainda assim, meu desejo é que esses negacionistas tomem as vacinas e que sigam as recomendações das autoridades verdadeiramente compromissadas com a saúde pública, caso contrário, que a seleção natural faça a sua parte e elimine rapidamente muitos deles(as).

Também rezo/oro pelos cem milhões de brasileiros que vivem, hoje, em insegurança alimentar, pelos 13,5 milhões de desempregados, pelos 5,7 milhões de desalentados e pelos 36,295 milhões que estão na informalidade, “vivendo de bicos”, portanto, sem nenhuma garantia trabalhista e/ou previdenciária, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/contínua), do IBGE.

Também peço pela juventude; eles serão fundamentais no processo eleitoral de 2022, pois a maioria não é negacionista, não é bolsonarista, não é fanática, não é alienada, pelo contrário, eles(as) estão na vanguarda, em defesa da democracia e contra o autoritarismo instalado no Brasil. 

Para concluir, meus pedidos finais têm a ver com o processo eleitoral de 2022.

Em outubro, decidiremos, democraticamente, se partiremos para a construção de uma grande nação ou se contribuiremos, com ações ou omissões, para a destruição total daquilo que ainda chamamos de Brasil.

No processo eleitoral de 2022, não há terceira via, há apenas a civilização versus a barbárie. Meu desejo é que possamos escolher e influenciar a escolha de outros para o lado correto, ou seja, o lado da civilização, da democracia, da liberdade, da pluralidade, da diversidade, enfim, simplesmente, o lado da vida.

Por fim, peço pelos presidenciáveis, que a espada da justiça recaia sobre alguns, julgando-os, dentro da lei, e envie-os para a cadeia por crime contra a humanidade e a saúde pública, por charlatanismo e traição nacional. E que a coroa da justiça esteja reservada para aquele que foi perseguido e preso injustamente.

Amém!

O autor é sociólogo.

Foto: Altemar Alcantara / Semcom