Paguem bem os(as) musicistas!
A Música é muito antiga. Na cosmogonia cristã, por exemplo, ela existe desde a eternidade

Mariane Veiga, por Aldenor Ferreira
Publicado em: 31/12/2021 às 16:50 | Atualizado em: 03/01/2022 às 06:35
Não existe vida plena sem música, na verdade, a dureza da vida só é suavizada pela arte como um todo… Mas, hoje, quero me ater apenas à música e àqueles que a fazem existir: os(as) musicistas.
A Música é muito antiga. Na cosmogonia cristã, por exemplo, ela existe desde a eternidade, antes mesmo da fundação do mundo. Isso está relatado no livro de Jó, capítulo 38:7, quando nos contam que, quando Deus fundava a terra, “as estrelas da alva juntas alegremente cantavam”.
Em outras cosmogonias, ela também está presente como o elemento que eleva a alma, que alivia as dores emocionais, que faz sorrir e sonhar, que traz felicidade e sensação de prazer.
Essa sensação de prazer já é explicada cientificamente, visto que, assim como realizar atividades físicas ou ter relações sexuais, ouvir música promove a liberação de endorfina, o hormônio responsável por essa sensação e pelo bem-estar. Não é à toa que a musicoterapia já seja uma realidade no tratamento de determinadas doença psicossomáticas.
Mas, afinal, o que é a Música? A Música é, antes de tudo, uma combinação de sons, de silêncio e de ritmos, uma ciência, com método, teoria e prática. É, também, uma forma de Matemática e de Física aplicadas de forma prática.
À guisa de exemplo, sons são ondas que oscilam com frequências (repetição em determinado tempo) medidas em Hertz; a Música é Física, portanto. Nos intervalos, nas escalas, na pulsação rítmica, no valor das notas musicais, nos compassos e assim por diante, utiliza-se álgebra, frações, funções, logaritmos e muito mais; a Música, então, é Matemática.
Aliás, é importante lembrar que, na Grécia Antiga, a relação entre Matemática e Música foi percebida pelo filósofo e matemático Pitágoras de Samos (c. 570 – c. 495 a.C.), possibilitando avanços no campo matemático e, consequentemente, na Música.
Assim, a gênese da Música ocidental é grega, por isso vemos os famosos sete modos gregos quando nos enveredamos em seu estudo, sendo eles: jônio, dórico, frígio, lídio, mixolídio, eólio e lócrio – matéria importantíssima e obrigatória para qualquer musicista.
Contudo, não são apenas os modos gregos que um(a) musicista precisa estudar. A Música é aprendizado contínuo, fazendo com que os(as) musicistas precisem estudar dezenas de outros assuntos continuamente, mesmo os(as) autodidatas. Ou seja, trata-se de uma vida inteira dedicada aos estudos, o que exige muita disciplina e, também, alto investimento em equipamentos e instrumentos, todos sempre muito caros.
Nesse sentido, para que haja boa música, é preciso que existam musicistas qualificados(as). Eles são elementos indissociáveis, afinal, não se faz um belo espetáculo sem uma boa técnica e sem longos ensaios, por exemplo.
De igual forma, não é possível “dar um show” sem um bom equipamento e, acima de tudo, sem patrocínio, sem incentivo público ou privado para as áreas culturais como um todo, especialmente para a área sobre a qual escrevo aqui, visto que, de uma forma ou de outra, ela está presente em todos os outros espetáculos.
Todavia, no Brasil, infelizmente, os(as) musicistas não têm o justo reconhecimento por tão nobre profissão. Ao contrário do que muita gente desinformada pensa, trata-se, sim, de uma profissão, tão importante quanto a do médico, a do engenheiro, a do professor, a do advogado ou qualquer outra.
E por que essa profissão é tão importante? Porque não existe vida plena sem música. Sem música o mundo ficaria mudo, triste, sem imaginação, sem emoção, seria um mundo sombrio.
O que seria do Natal, por exemplo, sem as canções natalinas? O que seria do cinema sem a música, uma boa trilha sonora torna o filme emocionante, marcando mentes e corações para sempre.
Indo mais além, o que seria de mim e de você sem uma bela canção para vivermos com regozijo o dia bom ou para enfrentarmos com esperança o dia ruim?
Ocorre que a Música em si não existe. Ela é um artesanato, fruto de mãos habilidosas, de ouvidos sensíveis, de percepções aguçadas, de mentes brilhantes e dedicadas, enfim, ela é produzida por homens e mulheres que merecem reconhecimento.
Com efeito, no geral, salvo raríssimas exceções, os musicistas ganham muito mal no Brasil. Até mesmo os mais famosos, que acompanham grandes estrelas em turnês pelo Brasil, não recebem cachês compatíveis com seus talentos, tempo de estudo e dedicação.
Para piorar, em plena terceira década do século XXI, ainda há muita gente que acha que ser musicista é mais diversão do que profissão, mas sinto informar que não, não é. Musicistas são trabalhadores da arte e do entretenimento, precisam ser bem pagos, precisam ser respeitados e reconhecidos.
As festas de final de ano são bem melhores com musicistas tocando ao vivo não é mesmo? Certamente, creio que há unanimidade nessa questão, mas, mesmo assim, eles/elas que estão ali trabalhando, são muito desvalorizados(as), apesar de serem merecedores de dignos e justos salários.
Portanto, contratantes, paguem bem os(as) musicistas, afinal, sem eles/elas, não existe música, sem eles/elas, o show para, sem eles/elas, a tristeza toma conta da vida.
O autor é sociólogo.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil