Os evangélicos e a besta que emerge da terra
"A moral é frouxa, a ética é vacilante e a teologia, enviesada'

Neuton Correa
Publicado em: 13/11/2021 às 07:13 | Atualizado em: 13/11/2021 às 07:13
Aldenor Ferreira*
Vi, na semana passada, um post no qual o ex-presidente Lula estava ao lado da imagem de um demônio, e o atual presidente Bolsonaro, ao lado de uma imagem de Cristo. A postagem foi feita por uma deputada federal evangélica.
Ao ver essa imagem, pensei: de fato, o maniqueísmo tomou conta de todas as esferas da vida nacional. Tudo parece estar submetido a uma lógica binária de análise, quer seja na política, na economia, na cultura ou mesmo nas relações interpessoais.
De todos os segmentos sociais, sem dúvida, o segmento evangélico é o que mais adota a prática das análises binárias. Como, nessa perspectiva, só existe o bem e o mal, então tudo está submetido a essa lógica. O problema é que, para eles, o mal é sempre aliado a qualquer ideia progressista.
Noutras palavras, na forma como encaram a política, o bem sempre está associado a alguma ideia prática da direita ou da extrema direita, ao passo que o mal é sempre associado a algo que venha da esquerda.
Nada mais tolo e enganoso do que isso!
Analisando a imagem postada e a sua legenda, que fazia referência à escolha política que o brasileiro tem diante de si, em 2022, a imagem dava a entender que se trata de uma escolha fácil, afinal, quem é que vai escolher o mal, não é mesmo?
Ocorre que, os evangélicos, uma parte significativa pelo menos, já fez a sua escolha. Em 2018, escolheram o mal – basta vermos os índices de pobreza, fome e desemprego, sem contar o número de mortes evitáveis devido ao novo coronavírus.
Para piorar, insistiram na escolha, mesmo diante de todas as evidências de mentiras e corrupções. Foram seduzidos, portanto, pela besta que emerge da terra, descrita no conhecido texto bíblico do Apocalipse.
O texto afirma que essa besta é o falso profeta, que é não só uma pessoa, mas também um sistema, um poder civil despótico, uma falsa religião, marcada por ideologias e doutrinas anticristãs. Lemos ainda, que o falso profeta levará os homens ao engano.
Noutras palavras, uma parte significativa dos evangélicos e de católicos, foi e está sendo enganada e manipulada, mas nem sequer se apercebeu disso. Mas uma coisa é certa: o cristianismo brasileiro, salvo raras exceções, não é cristão, como já abordei em outros textos.
O cristianismo brasileiro desses tempos hodiernos é mau, corrupto, despótico, obtuso. É um cristianismo mesquinho, que cultiva mais o ódio do que o amor, este, sim, fartamente ensinado por Jesus.
A banda podre da igreja evangélica, liderada por gente mau-caráter, por charlatões, avarentos, mentirosos, presunçosos, impiedosos, amantes das coisas mundanas, adentrou as instituições permanentes de Estado.
O engano e o autoengano desse grupo são tão fortes que eles pensam justamente o contrário do que estou expondo aqui.
Ou seja, para a maioria, a eleição de um “presidente cristão”, bem como a composição de uma “bancada cristã” na Câmara, no Senado Federal e nas demais casas legislativas do Brasil, foi feita justamente para combater um sistema-mundo anticristão.
Ocorre que, paradoxalmente, o segmento evangélico não apenas ajudou a eleger um presidente anticristão, mas também contribuiu com a eleição de um sistema que, em sua base e suas ações, é anticristão, colocando dentro do aparelho de Estado o que há de pior em termos de conduta ética.
A práxis da bancada evangélica no Congresso, salvo raras exceções, não condiz em nada com a moral cristã. O ethos protestante deles, tão bem observado por Weber, é totalmente outro. A moral é frouxa, a ética é vacilante e a teologia, enviesada.
Voltando ao Apocalipse, o texto deixa bem claro que a besta receberia adoração das pessoas, uma idolatria irracional. Não é difícil perceber, então, que essa besta, que emerge da terra, é tanto um sistema de governo anticristão quanto uma pessoa – você sabe de quem estou falando.
Então, eu pergunto: será que há esse quadro, descrito no livro do Apocalipse, na cena política brasileira?
Considerando que uma parcela substancial dos evangélicos idolatra o atual presidente e todo o seu governo, apesar de todo o mal a eles atrelados, e que muitos estão indo, portanto, na contramão do que está escrito em seu livro de fé, caindo na armadilha que seu Deus já havia alertado, a resposta a essa pergunta seria: sim.
Em síntese, parte do segmento evangélico brasileiro, a pretexto de combater o mal e o sistema-mundo anticristão, ajudou a colocar no poder a besta que emerge da terra, o falso profeta.
Ajudaram a criar um sistema anticristão, apesar do que pregam, pois o atual governo é dominado por denúncias de corrupção, desorganização, perseguição de minorias, além de propagar mentiras e ser demagogo, antinacional e antipovo.
Um governo que se elegeu com mentiras e que governa a partir delas. Representando, então, o oposto do que prega Cristo e a sua sã doutrina.
A besta que emerge da terra continua engando a muitos! Esperamos que dela nos libertemos nas eleições que se aproximam, em 2022.
*Sociólogo
Foto: Marcos Corrêa/PR, em 27 de novembro de 20