Militar que ameaçou ‘meter fogo’ em indígenas no AM é demitido da Funai
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmou que a situação coloca em risco a sobrevivência dos povos isolados

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 10/11/2021 às 13:51 | Atualizado em: 10/11/2021 às 13:57
O Ministério da Justiça exonerou o coordenador da Funai no Vale do Javari, no Amazonas, Henry Charles Lima da Silva, que havia incentivado o povo marubo a “meter fogo” em indígenas que vivem isolados na região do município de Atalaia do Norte (AM), a 1.140 quilômetros de Manaus.
A demissão foi publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (9).
No dia 23 de junho deste ano, o tenente da reserva do Exército incentivou o conflito entre os indígenas.
“Eu vou entrar em contato com o pessoal da frente [de proteção etnoambiental] e pressionar: ‘Vocês têm de cuidar dos índios isolados, porque senão eu vou, junto com os marubos, meter fogo nos isolados’”, afirmou ele na ocasião.
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As frentes de proteção etnoambiental são unidades da Funai especializadas em atender os povos isolados nos estados.
Em relato ao jornal, os marubos contaram que os isolados raptaram uma mulher da aldeia que foi encontrada quatro horas depois com as mãos amarradas na mata.
O ex-coordenador disse que os marubos tinham o direito de se defender. “Não estou aqui pra desarmar ninguém (…) Eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra, mas se a guerra vier, nós também não vamos correr”, afirmou.
A conduta do militar foi reprovada no parlamento e por entidades que representam os povos indígenas.
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) afirmou que a situação coloca em risco a sobrevivência dos povos isolados.
“É inadmissível que um órgão Indigenista, que deveria por sua obrigação lutar para proteger os povos indígenas, tenha um coordenador anti-indígena que em áudio fala sobre ‘meter fogo nos isolados’, colocando em risco a vida desses povos”, afirmou a entidade.
A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) classificou a atitude do coordenador da Funai como criminosa.
“Incentiva guerra entre povos indígenas e fala em ‘meter fogo’ em indígenas isolados! Um típico representante de um governo milicianos que precisa ser enxotado!”, criticou.
A vice-líder do Psol na Câmara dos Deputados, Fernanda Melchionna (RS), classificou a atitude como absurda.
“É o retrato do desgoverno bolsonarista: violento, armamentista e genocida! O coordenador, claro, é um tenente do Exército! Militares, façam um favor ao Brasil e voltem para os quartéis!”, protestou.
Foto: Funai